IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
As forças de Vladimir Putin voltaram a fazer um ataque maciço com mísseis contra Kiev e Kharkiv, primeira e segunda maiores cidades da Ucrânia, com eficácia superior à que vinha sendo registrada ao longo da guerra decorrente da invasão russa de fevereiro de 2022.
Ao menos quatro pessoas morreram, três delas em Kharkiv, devido à ação, ocorrida no começo da manhã desta terça (23), madrugada no Brasil. Há cerca de 60 feridos.
Foi o maior ataque desde a virada do ano, quando os russos mudaram suas táticas e passaram a empregar ondas com mísseis diversos, visando degradar progressivamente a capacidade das defesas aéreas dos ucranianos.
Desta vez, foram 41 mísseis lançados, com a Força Aérea local dizendo ter derrubado 21 deles -modelos de cruzeiro e balísticos. Curiosamente, não houve relato de ondas iniciais com drones, que saturam a capacidade de defesa por serem mais fáceis de abater, abrindo o caminho para os mísseis empregados.
Isso pode sugerir uma ainda maior perda de capacidade de defesa por parte de Kiev. De outubro de 2022 a setembro de 2023, o país dizia derrubar mais de 80% dos mísseis e drones jogados contra si. A mudança tática russa veio no fim do ano passado, acompanhada pelo relato da destruição de ao menos uma bateria antiaérea americana Patriot, essencial para a defesa de Kiev.
Em Kharkiv, um gasoduto foi rompido e explodiu, e na capital três distritos residenciais tiveram incêndios. O Ministério da Defesa russo divulgou nota dizendo que apenas mirou alvos militares e industriais, e o Kremlin negou, como de praxe, que alveje civis.
Na mão contrária, os russos perderam na semana passada um avião-radar A-50, uma das peças mais caras de seu arsenal aéreo e de dificílima reposição -agora há apenas nove existentes, não se sabe quantos totalmente operacionais.
O A-50 foi abatido sobre o mar de Azov por um míssil ucraniano ainda não identificado, o que levou a especulações se Kiev teria tido coragem de expor uma de suas baterias Patriot a uma posição próxima da linha de frente no sul, única posição possível para que tivesse alcance para atingir a aeronave.
As capacidades antiaéreas de Kiev são uma das maiores preocupações do governo de Volodimir Zelenski. Com o inverno no hemisfério norte, as ações terrestres principais ficaram mais restrita, e os russos aproveitaram o estoque de mísseis amealhado ao longo de 2023 para abrir uma nova fase da guerra com ataques maciços.
A Ucrânia passa por dificuldades, após ter fracassado em sua contraofensiva para isolar a Crimeia no ano passado. A oposição republicana no Congresso segue bloqueando um pacote de ajuda militar de R$ 300 bilhões pedido pelo presidente Joe Biden, cortesia da campanha eleitoral pela Casa Branca. E a União Europeia não se acerta sobre auxílio semelhante, por ora vetado pela russófila Hungria.
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