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Incêndios provocados por sobrecarga elétrica crescem no Brasil, segundo dados da Abracopel

 

Reprodução Facebook/ CBPR

No último sábado (25) a Miss Mayara Nitão morreu após pular de uma janela, do 6º andar, ao tentar fugir de um incêndio que ocorria em seu apartamento, em São Paulo. As causas das chamas ainda não foram confirmadas pela polícia técnica, mas há indícios de que teria começado por uma sobrecarga de energia no ar-condicionado ou em uma tomada. Essa situação não é isolada e, segundo dados da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel) está crescendo, pois apenas de 2021 para 2022, houve um aumento de quase 40%, saindo de 519 registros para 819, em todo o país.


O detalhamento desses dados consta do Anuário Estatístico de Acidentes de Origem Elétrica referente ao ano de 2022, produzido pela Abracopel, que será lançado na próxima quinta-feira (30), com gráficos que mostram a evolução desse tipo de acidente e também de mortes por choques elétricos nos últimos 10 anos. Parte desses dados foram obtidos com exclusividade pelo 
BNews e revelam números alarmantes de situações que poderiam facilmente serem prevenidas, evitando as mais de seis mil mortes registradas ao longo da década por esse tipo de acidente.

Parte desses gráficos evidenciam os públicos que são vítimas desse tipo de acidente e, diferente dos relacionados aos choques elétricos, onde figuram homens, entre 21 e 50 anos, que normalmente estão realizando algum tipo de serviço em rede ou equipamentos elétricos, nos casos de incêndios as mortes ocorrem entre crianças e idosos. “O incêndio acontece na grande maioria dentro das residências e normalmente crianças, que não têm poder de decisão, e idosos, que têm dificuldade de locomoção, são as principais vítimas”, detalhou Edson Martinho, engenheiro eletricista e em segurança do trabalho, que é fundador e diretor executivo da Abracopel.

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Bahia

Bahia desponta nos números sempre aparecendo no pódio do Anuário quando o assunto é acidentes por choque elétrico, ocupando em 2022 o segundo lugar. Essa posição em que o estado aparece, pelo segundo ano consecutivo, depois de liderar por muitos anos, ainda preocupa se avaliarmos com o parâmetro populacional, já que o primeiro lugar está com São Paulo. “Se a gente comparar a população dos dois estados, a Bahia ainda está na frente. Ainda nesse sentido população, o Acre tem a pior situação, o que assusta”, esclareceu Martinho, ao explicar que São Paulo tem o maior número habitantes do país e por isso teria, consequentemente, o maior número de acidentes.

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Prevenção

Tanto para os casos de choques, quanto para os casos de incêndio, a prevenção é sempre o melhor caminho e pode realmente evitar muitas mortes. Um desses caminhos é buscar ter em obras, por menores que sejam, um profissional capacitado para o serviço elétrico e, claro, também manter cuidados diários.

Segundo o diretor da Abracopel, a instalação elétrica tem de ser revisada por um profissional qualificado e especializado a cada cinco anos, podendo ser até em menos tempo, caso o morador perceba alguma situação de tomada chamuscada, fio saindo faísca ou mesmo cheiro de queimado. Nesses casos é necessário fazer a revisão com urgência.

Há um aparelho que pode ajudar nos casos de choques elétricos, que Martinho recomenda a instalação nas residências. “Um dispositivo chamado DR, que vem do nome diferencial residual, e é até parecido com o disjuntor, tem a função especifica de desligar a instalação elétrica na possível ocorrência de um choque elétrico. Ele custa em torno de R$ 150,00, mas ele salva vidas”.

Além do DR, é importante não deixar fios soltos, caixas sem tampa, tomadas sem proteção e evitar usar “T” e extensões. “Muito cuidado ao usar extensões, principalmente essas de enrolar, elas são perigosas. Equipamentos em área úmidas, como geladeira, fogão, máquina de lavar, não é indicado o uso de extensões”, explica o especialista.

“Antes de ligar ou desligar na tomada, se preocupe em verificar se não há fios soltos, porque um choque de 50 volts para um ser humano já pode ser fatal, sendo que normalmente as instalações são 127 e 220 volts. Um pé úmido no chão, em uma situação dessa, pode ser fatal”, alerta Martinho

Quando o assunto é sobrecarga, vale destacar que equipamentos com maior potência, como air fryer, micro-ondas, fornos elétricos e outros, que normalmente já vêm, atualmente, com pinos mais grossos, precisam ter uma instalação elétrica compatível. “É necessário uma instalação com fios mais grossos, com disjuntor ou fusível adequado para esse fio e a tomada com fio mais grosso, para não usar adaptador. Nunca use dispositivos de adaptador de pinos mais grossos para pinos mais finos, pois gera um ponto de aquecimento que pode gerar incêndio”, explicou o engenheiro.

Outra dica é ficar atento, caso haja uma troca de equipamento. “Trocou o chuveiro, comprou um forno mais potente, ou qualquer outro produto que ao ligar fez o disjuntor desligar, isso é sinal de que a instalação elétrica está ruim. Nunca, em hipótese alguma, substitua o disjuntor, ou deixe o profissional contratado colocar um de maior valor, sem trocar os fios da instalação, esclareceu Martinho.

Por fim, nas obras, é importante ficar atento a qualidade dos fios utilizados, pois há no mercado os chamados “desbitolados”, que possuem uma qualidade muito inferior. Acontece que fios e cabos são feitos de cobre para conduzir com segurança a energia. Entretanto, para baratear o produto, algumas empresas diminuem drasticamente o uso desse metal ou ainda o misturam a outros elementos químicos, tornando-os resistente à passagem da energia elétrica, gerando um aquecimento que, com o tempo, derrete a camada de proteção, que atua como isolante elétrico, e acabam pegando fogo.

Para não adquirir esse tipo de produto, que ao consumidor não demonstra nenhum tipo de diferença visualmente, Martinho dá uma dica importante. “Ao comprar um cabo na loja de material de construções desconfie daquele que é muito mais barato que os concorrentes. Se você tem orçamentos que dão R$ 115,00, R$ 125,00, R$ 140,00 e o vendedor lhe oferece um que custa R$70,00, não leve e ainda informe no site da Qualifio  [Associação Brasileira pela Qualidade dos Fios e Cabos Elétricos], pois eles possuem operações de combate ao mercado ilegal de fios e cabos por todo o Brasil”, finalizou Martinho.


por Letícia Rastelly

leticia.rastelly@bnews.com.br

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