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Mulheres com deficiência falam de relações nas redes

 

Foto: Dênio Simões/Agência Brasília

Havolene Valinhos
São Paulo, SP

A percepção de que mulheres com deficiência ficam à margem quando o assunto gira em torno de sexualidade, sensualidade, direitos reprodutivos, autoestima e relacionamentos vem mudando com o crescente movimento de influenciadoras digitais e ativistas que reivindicam seu lugar de fala e abordam esses temas. O grupo representa 26,5% da população feminina brasileira, segundo o Censo do IBGE de 2010.

A criadora de conteúdo, modelo e fotógrafa Maria Paula Vieira, 29, conta que demorou para entender o olhar da sociedade. “Na infância não sabia o que era o capacitismo, conceito recente. Tinha 14 anos quando ouvia falarem que eu era uma cruz para a minha mãe. Então, muitas vezes estamos bem com quem somos, mas o olhar de curiosidade, de preconceito, começa a minar a nossa autoestima.”

Vieira tem uma doença genética, nunca diagnosticada, desde os três anos, que dificulta seus movimentos.

“A adolescência é uma fase de descobertas, de questões de relacionamento, mas eu não era chamada para ir ao cinema, não recebia cartinhas dos garotos.”

Com os anos, ela diz que começou a sair mais de casa. “É um processo constante, mas não é linear. Se acolher, se olhar com carinho.”

Segundo Vieira, muitas vezes o parceiro de uma mulher com deficiência é considerado um herói simplesmente por ter assumido a relação publicamente.

“Estava em uma festa, com um ex-namorado, e uma mulher chegou a quase chorar na nossa frente. E isso é algo comum até hoje, elogios como se meu parceiro fosse sempre um herói por estar comigo.”

Carolini Constantino, assistente social e fundadora do coletivo feminista Helen Keller, diz que muitas vezes a mulher com deficiência é vitima de dupla pressão: machismo e capacitismo.

“A mulher com deficiência não é vista como mulher, quem pode cuidar da casa, dos filhos. Se sou cadeirante, olham para mim e pensam que não sou capaz de engravidar”, diz Constantino, que foi pesquisadora do Núcleo de Estudos sobre Deficiência da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).

“Eu tenho AME [Artrofia Muscular Espinhal] e uso cadeira de rodas desde criança, carregava uma culpa, mas estudando o assunto entendo que sou atraente, sou bonita também.”

Zannandra Fernandez, 20, é estudante de relações internacionais e diz que, há dois anos, começou a produzir conteúdo na internet, abordando temas como maquiagem sob a perspectiva de uma pessoa com deficiência ou roupas acessíveis. Ela tem planos de se mudar de Cuiabá para São Paulo no próximo ano. “Por isso, comecei a morar sozinha para que a mudança não seja tão difícil.”

Sobre relacionamentos, ela diz que a insegurança, muitas vezes gerada pelo capacitismo, alimenta a sensação de que a mulher com deficiência vai acabar sozinha. “Não temos que nos submeter a qualquer tipo de relação. Há muito relacionamento abusivo e tóxico, não apenas amoroso. A pessoa com deficiência tem que aceitar tudo, senão é tida como ingrata, mal-agradecida.”

Fernandez diz que já aconteceu de a pessoa admitir que gostava dela, mas que tinha medo do que as outras pessoas podiam pensar. Também passou pela experiência de achar que ter um relacionamento às escondidas era normal, uma opção dela para preservar a vida pessoal.

A jornalista Ana Clara Moniz, 22, cria conteúdos desde os 18 e conta que fez sua primeira viagem sozinha recentemente para assistir ao Rock in Rio. Ela tem atrofia muscular espinhal que afeta músculos do corpo. “Nunca andei e isso nunca foi um problema. Sempre fui muito consciente de que faz parte de quem eu sou.”

Por FolhaPress

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