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Terreiro de Candomblé é alvo de ataques em dois dias consecutivos: "destruíram assentamento de Exu"; veja vídeo


 Brasil. Um país considerado laico que promove a separação entre Estado e religião, ou seja, todos os cidadãos devem ser respeitados e tratados igualmente independente qual seja a sua religião. Apesar disso, casos de racismo religioso crescem exponencialmente através de violência e desrespeito contra pessoas de religião de matriz africana, como o candomblé e a umbanda.

No último domingo (13), o alvo da vez foi o terreiro Logun Éde, que existe há mais de 30 anos, localizado no município de Eunápolis, no sul da Bahia. Na ocasião, evangélicos teriam ido pregar em frente a roça, quando iniciaram os ataques e agressões aos filhos de santo da casa. As informações são de umas das hierarquias da casa, Luzenira Santana, 37, que cresceu e foi criada dentro do axé por sua mãe biológica e de santo, Maria Luziene – yalorixá do terreiro.

“Angústia, tristeza, sentimento de revolta, de violação”, descreveu Luzenira sobre o ocorrido em sua casa.

Ao BNews, a filha do terreiro Logun Éde contou que fiéis da Assembleia Juca Rosa foram pregar na porta da casa de axé e um deles teria levantado o pé para derrubar o assentamento de Exu – orixá mensageiro. O desrespeito foi o pontapé inicial para as agressões contra os filhos e mãe de santo.

Na ocasião, a sobrinha de Luzenira pediu ao pastor para que seus fiéis se retirassem do local para evitar a confusão. Mas, no momento, de acordo com os relatos, o pastor teria puxado a jovem pelos cabelos e um outro evangélico teria dado um ‘’mata-leão’’.

“Quando a gente viu a situação, tive que parar de gravar para poder acudir na tentativa de tirar ela da mão deles, porque fechou um monte de homem em cima, minha mãe foi, o meu esposo também na tentativa de tirar ela das mãos deles. Acabou que minha mãe foi machucada no braço, meu esposo está com arranhão no peito”, relembrou.

Assista ao vídeo:

Além dos relatos, as imagens falam por si e retratam o cenário de intolerância religiosa contra o povo de candomblé e sua religiosidade. No vídeo, evangélicos se aproximam do terreiro e pregam em frente ao local.

Veja:

Desrespeito a fé e o sagrado

Após as agressões físicas e verbais, os denunciantes registraram a ocorrência na delegacia da cidade no mesmo dia. Contudo, no dia posterior, na segunda-feira (14), os ataques se potencializaram e o desrespeito atingiu uma esfera ainda maior: a fé e o sagrado do candomblé.

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Conforme a Luzenira, os filhos da casa de Logun Éde estavam em procedimento religioso com as portas fechadas. No momento em que os rituais encerraram, uma das filhas de santo saiu e se deparou com o assentamento de Exu destruído.

Por causa do caso do dia anterior, os denunciantes acreditam que esse ataque também seja de responsabilidade dos fiéis da Congregação do Juca Rosa. “O lugar do Exu estava destruído, eles abriram, cavaram, tiraram a panela, despejaram tudo que tinha dentro e ainda levaram a panela de Exu”, ressaltou uma das hierarquias do terreiro.

Veja imagens:

Assentamento de Exu destruído

Assentamento de Exu destruído

“Minha mãe tem esse terreiro há mais de 30 anos no bairro Juca Rosa, meu sentimento é de tristeza, revolta, nós fomos violados a partir do momento que eles destruíram o assentamento de Eu, nós fomos violados. Infelizmente essa é a realidade. Estamos nos sentindo humilhados com essa situação de intolerância religiosa”, desabafou Luzenira.

À reportagem, a filha de santo ainda fez um apelo: “A gente está pedindo ajuda, socorro para resolver logo essa situação, para que as pessoas que foram envolvidas nisso paguem, os responsáveis que fizeram se ato sejam punidos”.

Vale ressaltar que, no segundo dia consecutivo de ataques, Luzenira foi novamente a delegacia registrar o boletim de ocorrência acompanhada da advogada, Janaina Panhossi.

B.O

Para o BNews, a advogada de acusação informou que: “todas as providências já foram tomadas no sentido de comunicar as autoridades sobre o fato, fornecemos todo o material disponível afins de comprovação do que está sendo alegado e agora caberá as autoridades policiais a apuração, a identificação desses indivíduos e a responsabilização dessas pessoas que atacaram não só momento a fé, mas principalmente a dignidade de uma pessoa e seus familiares”, completou.

Dados

Em 2021, 14 anos após a instituição da data, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MDH) recebeu 586 denúncias de intolerância religiosa, um aumento de 141% em relação ao ano anterior, que teve 243 denúncias.


Arquivo pessoal    Yasmim Barreto

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