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'Se souber, não vou deixar ela falar', diz marido de viúva de miliciano Adriano da Nóbrega sobre Bolsonaro


 Ex-presidente e ex-patrono da escola de samba Unidos da Vila Isabel, Bernardo Bello Barbosa diz que a tentativa de delação premiada de Júlia Mello Lotufo, viúva do miliciano Adriano da Nóbrega, é "uma farsa". Júlia acusa Barbosa de ter sido sócio de Adriano no "Escritório do Crime" e o mandante de pelo menos dez mortes executadas pelo ex-policial. Ela já gravou depoimentos para o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro.

Segundo Bello, a viúva se associou à ex-cunhada dele, Shanna Harrouche Garcia, com quem está rompido, para "criar um fantasma" e proteger "alguém". Adriano da Nóbrega foi segurança da família de Shanna, historicamente ligada à contravenção e ao carnaval do Rio.

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"Eu afirmo veementemente que a Júlia está mentindo", diz Bernardo Bello em entrevista à coluna.

Um dos trunfos que a defesa de Bernardo Bello acredita ter é o pedido de conservação da gravação de uma conversa entre ele e o atual marido de Júlia, o empresário Eduardo Giraldes, que é fabricante de azeite. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é citado no diálogo.

Bernardo Bello e Giraldes se encontraram em junho, antes que a proposta de delação de Júlia Lotufo viesse a público —mas quando já corriam rumores de que a viúva poderia colaborar com a Justiça.

Investigada em processo que tramita na 1ª Vara Criminal Especializada do Rio, ela é acusada de lavagem de dinheiro a serviço da milícia. Está em prisão domiciliar, de tornozeleira, e tenta uma delação premiada para se livrar de eventuais penas e deixar o Brasil com o novo marido, Eduardo, que conheceu alguns meses depois da morte do capitão Adriano.

Na conversa com Giraldes, Bello afirma que os promotores não estariam interessados nele ("é óbvio que o que querem não é o bobalhão aqui"), mas sim que a viúva do miliciano "fale de [Jair] Bolsonaro".

O capitão Adriano era ligado à família do presidente da República e foi citado na investigação que apura a prática conhecida como "rachadinha" no gabinete de Flávio Bolsonaro quando ele era deputado estadual pelo Rio de Janeiro. A mãe e a primeira mulher do miliciano trabalhavam com o parlamentar e teriam repassado parte de seus salários ao esquema.

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"Não vai falar", responde o atual marido de Júlia sobre Bolsonaro. "Se ela souber, e ela quiser falar", emenda Bernardo Bello. "Mas se souber, eu também não vou deixar ela falar", segue Eduardo Giraldes.

Bernardo diz então acreditar que, se citar Bolsonaro, vão acabar com Júlia "de verde, amarelo, azul e branco".

"Se ela não quiser falar... meu irmão, até porque, sabe por quê? Vai acabar com a vida dessa menina", afirma o ex-presidente da Vila Isabel.

O marido de Júlia concorda: "E com a minha".

(Ouça a gravação do trecho da conversa em que Bernardo Bello e Eduardo Giraldes falam sobre Bolsonaro)

O diálogo mostraria, segundo a defesa de Bello, que a tentativa de colaboração da viúva não reflete o que ela de fato sabe e viveu. Adriano da Nóbrega foi morto em 2020 numa operação policial e, segundo relato de seu advogado, Paulo Emilio Catta Preta, temia ser alvo de "queima de arquivo".

A conversa de Bernardo Bello com Giraldes poderia ainda endossar o argumento da defesa de que Bello não tinha proximidade e muito menos associação com o capitão Adriano.

O empresário repete isso em diversos momentos da conversa com Giraldes. O atual marido da viúva do miliciano, por sua vez, afirma na gravação que Júlia "não tem nada contra" Bernardo Bello.

O marido de Júlia diz ainda no diálogo que já gastou R$ 6 milhões com advogados para que ela ficasse presa em regime domiciliar, como foi autorizado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). E afirma precisar de mais R$ 6 milhões para derrubar a medida cautelar e reaver o passaporte dela. Giraldes afirma que os dois têm planos de se mudar para o exterior.

Uma parte da gravação foi divulgada pelo site Brasil de Fato na semana passada. A coluna teve acesso a outros trechos, inéditos, da conversa.

Bernardo Bello confirmou à Folha o conteúdo do diálogo, inclusive as falas do trecho em que o presidente Jair Bolsonaro é citado. Seu advogado, Fernando Fernandes, afirma que pedirá uma perícia do registro.

O marido de Júlia Lotufo, Eduardo Giraldes, por sua vez, enviou mensagem à coluna afirmando que sua defesa se manifesta nos seguintes termos: "A gravação que foi vazada para a mídia não retrata a íntegra da gravação, e a forma colocada na mídia deturpa e manipula os fatos. A defesa só vai se manifestar mediante publicação da gravação na íntegra".

A DELAÇÃO

As tratativas de Júlia Lotufo com o Ministério Público do Rio de Janeiro para fazer delação começaram em junho.

A viúva de Adriano da Nóbrega hoje cumpre prisão domiciliar por determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Teve que entregar o passaporte à Justiça e colocar tornozeleira. O condomínio onde vive, na Barra da Tijuca, é monitorado pela polícia e ela diz temer ser assassinada.

Como contrapartida da colaboração com a Justiça, Júlia pretende se livrar de eventuais penas e morar fora do Brasil com o novo marido, Eduardo Giraldes. Produtor do Azeite Royal, que já patrocinou clubes como o Flamengo, ele já foi condenado em primeira instância na Justiça por integrar uma quadrilha de clonagem de cartão de crédito.

A proposta de delação da viúva dividiu o Ministério Público do Rio de Janeiro: uma parte de seus integrantes vê as declarações dela com reserva.

Apesar da proximidade já confirmada de Adriano da Nóbrega com a família de Jair Bolsonaro, Júlia não fala do esquema de rachadinhas no gabinete de Flávio Bolsonaro em sua proposta de delação.

Ela poupa ainda Fabrício Queiroz, amigo e ex-assessor da família Bolsonaro, próximo do capitão Adriano e suspeito de coordenar o esquema das rachadinhas.

O próprio Queiroz admite que indicou a mãe de Adriano, Raimunda Magalhães, e a primeira mulher dele, Danielle da Costa Nóbrega, para trabalhar no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). As duas teriam entregue parte de seus salários ao esquema. Em 2005, quando era deputado estadual, Flávio atendeu a um pedido do pai, Jair Bolsonaro, e homenageou Adriano da Nóbrega na Alerj. O ex-policial recebeu a Medalha Tiradentes, maior honraria da Casa.

As tratativas de Júlia com o MP resultaram em desentendimentos e contribuíram para a saída das promotoras Simone Sibilio e Leticia Emile da força-tarefa que investiga o assassinato da vereadora Marielle Franco.

A saída das promotoras do caso, em julho, gerou reação da família e de políticos ligados a Marielle, que confiavam no trabalho delas.

Em seu perfil no Twitter, Monica Benício, viúva de Marielle, escreveu: "Governador Claudio Castro [do Rio] e Procurador-Geral de Justiça do RJ, quero saber do que se trata: os senhores não têm competência para impedir a interferência ou estão interferindo. Podem explicar?".

O governador Claudio Castro (PL-RJ) é aliado da família de Jair Bolsonaro.

A proposta de acordo de delação apresentada por Júlia ao MP tem 12 anexos.

Além de apontar Bernardo Bello como principal sócio de Adriano da Nóbrega, a viúva afirma que ele chegou a procurar o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel para falar sobre a conveniência de o miliciano ser morto, e não preso, caso fosse encontrado pela polícia (ele estava foragido).

Júlia diz que ouviu a história do próprio Adriano da Nóbrega.

O ex-governador nega e diz que nunca antes tinha ouvido falar de Bernardo Bello. O empresário, por sua vez, afirma que a história não tem pé nem cabeça e que jamais viu o governador.

A viúva afirma também que os corpos das vítimas do "Escritório do Crime" comandado por Bello e Adriano da Nóbrega eram enterrados no haras da fazenda Modelo, em Guarapimirim, no Rio. A propriedade é da família do bicheiro Waldemir Paes Garcia, o Maninho, ex-sogro de Bello.

Segundo reportagem da revista Veja sobre a delação, Júlia afirmou ao MP que Bello recebia entre R$ 500 mil e R$ 700 mil de Bello por cada execução.

Júlia Lotufo cita ainda autoridades do Judiciário e do MP que receberiam propina para acobertar crimes. E aponta um suposto mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

Segundo a viúva, um dos chefes da milícia de Rio das Pedras procurou o capitão Adriano para sondá-lo sobre a possibilidade de ele executar a vereadora. O capitão teria rechaçado de imediato, e não teria participado do plano. A encomenda teria partido do ex-vereador Cristiano Girão —que nega envolvimento no assassinato.

Como cita autoridades que têm prerrogativa de foro, a proposta de colaboração de Júlia Lotufo foi encaminhada à Procuradoria-Geral da República, em Brasília. O Superior Tribunal de Justiça (STJ), que pode ou não homologá-la, diz que ela ainda não foi enviada à Corte.

LAÇOS DE SANGUE

A gravação da conversa entre Bernardo Bello e Eduardo Giraldes registra o encontro que eles tiveram em junho deste ano.

Naquele mês, duas informações começaram a circular no submundo do Rio: a primeira, a de que Júlia comprometeria Bernardo Bello em uma tentativa de delação premiada (o que realmente ela acabou fazendo). A segunda, a de que Bello poderia encomendar a morte de Júlia e do atual marido dela.

O encontro entre Bello e Giraldes foi marcado pelo advogado Pablo Barra Siqueira, que é amigo de ambos. Os três conversaram dentro de um carro, na entrada do condomínio em que Júlia cumpre prisão domiciliar, na Barra da Tijuca. Pablo confirmou sua participação à coluna.

A ideia era que eles esclarecessem, olhos nos olhos, o que era verdade e o que era mentira sobre os rumores que se espalhavam no circuito em que vivem. Ambos negaram tudo: Bello disse que jamais faria mal a Júlia. E Giraldes disse que Júlia nada tinha contra ele.

No meio da conversa, Bernardo Bello afirma estar convicto de que promotores do Rio querem, na verdade, que Júlia comprometa Bolsonaro e sua família na delação. É quando Eduardo Giraldes afirma que não vai deixar ela fazer isso.

As histórias de Bernardo Bello e da viúva se entrelaçam porque o miliciano Adriano da Nóbrega trabalhava para o bicheiro Waldemir Paes Garcia, o Maninho. E Bello foi casado com Tamara Harrouche Garcia, uma das filhas de Maninho.

A família Garcia é historicamente ligada à contravenção e ao carnaval do Rio –o pai de Maninho, Waldomiro Garcia, o Miro, era patrono da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro. O filho herdou o posto.

A saga da família é sangrenta: Maninho foi assassinado em 2004. Depois da morte, o capitão Adriano virou segurança do irmão dele, Alcebíades Garcia, o Bid.

Em 2017, Mirinho, filho de Maninho, também foi executado. Em 2020, chegou a vez de Bid.

Adriano então teria passado a trabalhar com a outra filha de Maninho, Shanna Harrouche Garcia, ex-cunhada e hoje desafeta de Bello –ela inclusive foi baleada na porta de um shopping center do Rio em 2019 e o acusa de tentar matá-la.

No centro das desavenças da família está a disputa por um patrimônio de mais de R$ 25 milhões que teria sido deixado por Maninho, em pontos de jogo do bicho, imóveis urbanos e fazendas.

Acusado pela delatora Júlia Lotufo de ser sócio de Adriano, Bello afirma que na verdade o miliciano trabalhou com Shanna até o fim de sua vida.

E sustenta que hoje a ex-cunhada teria se associado à viúva dele para destruir a sua vida, acusando-o de ser sócio do "Escritório do Crime".

Leia, abaixo, trechos da conversa entre Bernardo Bello e Eduardo Giraldes em que Bolsonaro é citado:

"Tu ia me matar"

(Neste trecho, o advogado Pablo Siqueira apresenta os dois. Eles falam sobre os rumores de que poderiam prejudicar um ao outro)

Pablo - Deixa eu apresentar vocês aí, cara: Bernardo, Eduardo, apresentar vocês aí porque, por mais que os dois nunca tenham se visto, né, meu irmão...

(Eles começam a conversar. Comentam que não se conhecem, que nunca se viram na vida. Comentam a presença de seguranças no condomínio)

Pablo - O que eu falei? Pô, meu irmão. Senta e conversa. A porra desse tipo de fofoca aumentando.

Bernardo - O que eu falei para ele [Pablo]? Não tem, para mim nunca chegou fofoca nenhuma. Eu nunca procurei, eu nunca falei. Ele [Pablo] me falou um monte de coisa, que eu mandei recado, não foi?
Cara, eu nunca mandei recado nenhum, para ninguém, para nada. A única vez que eu ouvi falar seu nome foi na parada dos gêmeos. Acabou. E eu não tenho nada a ver com isso.

Eduardo - O que me deixou muito assustado... Assim, não é uma vida que é minha. A minha vida é totalmente oposta, entendeu? Eu não lido com contravenção, com máquina, com nada. Eu conheço, pela Barra (da Tijuca), como todo mundo conhece. Eu mal te conhecia, nunca te vi.

Bernardo - E nem eu a você. Temos a mesma idade, eu acho. Ele falou que você tem 39. Eu tenho 39. Sabe como eu ouvi falar do teu nome? Uma vez eu fui fazer um negócio imobiliário com o Leo, e aí tava na sala dele uma porrada de camisas de time, com o bagulho "Royal". E ele falou: "Esse é um amigão meu, caralho, que tá fazendo negócio comigo, estamos entrando em todos os clubes do Rio [o Azeite Royal, que Eduardo Giraldes produz, patrocinou quatro grandes clubes do Rio]". Eu sou vascaíno. Falei: "Pô, meu irmão, levanta o meu Vasco. O meu Vasco está precisando, caralho". Aí ele falou: "Pô, o cara tem uma operação de azeite lá de Portugal, o caralho, não sei o quê". Mas, assim, se tu passa na minha frente, podia ser preto, branco, alto, baixo, gordo.

Eduardo - (ininteligível) Não sei se ele é preto, alto, gordo, feio, bonito, forte, magro. Não conheço. Aí o que acontece, Bernardo? Tu nunca ouviu falar eu falando de você.

Bernardo - E vice-versa.

Eduardo - Não. Mas aí que tá. Começou uma porrada de fofoca que tu ia me matar.

Bernardo - Porra, meu irmão.

Eduardo - Juro pra tu. Que tu ia me matar, ia me prender, que, porra, eu sou um filho da puta. Eu falei: "Eu? O que eu tenho a ver com essa história?" Nada.

Bernardo - Rapaz, deixa eu te falar uma história. Primeiro: que motivo eu teria para tentar te matar? Eu ganho dinheiro com você?

Eduardo - Não.

Bernardo - Eu tenho negócio com você? A sua morte me beneficiaria em quê?

Eduardo - Zero.

Bernardo - Caralho, então isso não faz sentido. Não existe isso, cara.

Eduardo - Começou uma porrada de fofoca.

Bernardo - E mesmo assim, "vou matar", as pessoas falam de matar como se fosse uma coisa assim, "uma barata, mata, mata, mata. Pisa". Depois que a Shanna [filha do sambista Waldemir Garcia, o Maninho, assassinado em 2004, e ex-cunhada de Bello; ela foi baleada em 2019 e o culpa pelo atentado] contou aquele monte de mentira e botou o meu nome para todos os jornais do Rio de Janeiro, depois que ela falou aquele monte de mentira, a minha vida virou... Sabe o que eu faço hoje? Eu não saio de casa.

Pablo - Eu falei um negócio para ele, vê se você acha que tem fundamento ou não tem: essas coisas, cara, aumentam de uma forma... Meu irmão, tu sabe se a menina tem informação lá, nego bota pilha lá, na menina, na Shanna. A Shanna fala besteira na rua. Nego fala besteira com o teu nome. É normal ou não é nego falar o teu nome?

Bernardo - Cara, a Shanna tem uma pessoa do lado dela que é um câncer. Eu não sei nem se você é amigo dele. Mas é a pessoa mais mentirosa que eu já vi na minha vida. Um ser humano deplorável, que não tem palavra, que não tem bandeira. Mas, assim, ela pode ter criado a história, inventado um monte de coisa? Pode.

Eduardo - A única [das filhas do bicheiro Maninho] que eu conheci muitos anos atrás foi a tua ex, a Tamara [irmã de Shanna e ex-mulher de Bello], porque ela foi casada com o Leandro e ele é muito amigo do Romulo. O Romulo é meu amigo há 20 anos.

Bernardo - Pergunta para o Leandro e para o Romulo. O Romulo já esteve comigo duzentas vezes. Pergunta para ele: Romulo, tu já viu o Bernardo fazer uma grosseria? Tu já viu o Bernardo destratar alguém? Meu irmão, não existe. As pessoas criam um folclore, um estereótipo de um ser humano que não existe, cara. Não tem. Eu nunca tive, Eduardo, nada contra a sua pessoa. Nada. Eu nunca tive um problema com você. Como tem essa história agora dos gêmeos, quando me procuraram, sabe o que eu falei? "O que eu tenho a ver com isso?"

Na hora que o negócio era bom, ninguém me chamou e falou: "Quer ganhar 1%?".

"Eu já gastei R$ 6 milhões"

(Neste trecho, eles seguem falando sobre supostas ameaças e sobre dívidas de Eduardo; o marido de Júlia revela o que já gastou com advogados)

Bernardo - Eu pensei: irmão, esse cara tá receoso comigo. Daqui a pouco ele tem os problemas dele, pessoais, e vão achar que sou eu [em caso de alguma violência contra Júlia e Bernardo]. Entendeu? Porra, Eduardo, eu tenho quatro filhos. Não tem nada nessa vida que eu queira mais do que eles. Que Deus dê um câncer para eles se eu tiver algum problema. Com você ou com ela [Júlia]. Eu não tenho por que ter.
Aí vieram dizer que ela era queima de arquivo, que não sei o que. Meu irmão, ele me falou uma coisa que não encaixa em cabeça de ser humano nenhum. "Ah, porque disseram que você queria, mexeu para prender ela, para ela não poder falar nada". Eu falei: "Cara, presta atenção: isso não existe". Porque o que todo mundo sabe nessa vida é que passarinho quando vai para a gaiola canta...

Eduardo - ... ela vai falar.

Bernardo - Então como, se eu quero prejudicar alguém, eu vou fazer isso? Porra, cara, isso... Sabe, é tanta mentira, tanta história. Não faz sentido.

Eduardo - Tu é um cara inteligente, tu não é um cara burro, ou não chegava onde você chegou. Quem quer falar gasta dinheiro?

Bernardo - Não, não, não gasta.

Eduardo - Eu já gastei R$ 6 milhões na primeira etapa [na Justiça para que Júlia saísse do regime fechado e fosse para prisão domiciliar]. E para mim liberar o passaporte dela é mais R$ 6 milhões. Eu quero ir embora. A minha vida não é aqui. É fora.

Bernardo - Sabe quem me contou a primeira história [de que Júlia o delataria]? Isso é o que está mais me assustando nessa porra toda. Porque até então eu nunca tinha ouvido falar nem de você, nem dela, nem de nada.

Eduardo - Sem querer cortar: quando ela esteve contigo há um ano e pouco atrás, foi até um conselho teu... tanto que ela nunca bateu na porra da tua porta. E você falou que, se precisasse, ela poderia bater. Foi a condição minha com ela, no casamento com ela: o passado, esquece. Respeito o teu carinho por ele [Adriano da Nóbrega], a sua dor. Se quiser chorar, pode chorar. Se quiser conversar com a tua mãe, eu saio. Eu respeito muito. E saio. Às vezes [Júlia] está com a mãe na sala, começa a falar "Adriano", essas coisas, eu levanto, vou para o meu quarto, porque eu respeito. E isso foi um combinado. Eu não entrei no mundo dela. Ela entrou na minha vida. Então é inverso. Eu não participo do que ela participou. Ela que veio participar de uma nova vida. E ela nunca foi com você, fulano, ciclano, pedir, falar. Eu casei com ela. Gostei dela. Fui até o final para poder defender a menina.

Bernardo - A única vez em que eu estive com ela, e ela é prova disso, eu a tratei extremamente bem. Eu no final ainda falei para ela o seguinte: "Quer o conselho de um bobo? Foge disso porque esses caras que estão te cercando, que você está achando que está protegida, vão ser os primeiros a te trair, a te apunhalar pelas costas".

"A parada é política"

(Neste trecho, eles discutem que a morte de Adriano não é esquecida porque a imprensa quer prejudicar o presidente Jair Bolsonaro)

Eduardo - Ela [Julia] está tomando sete remédios de depressão. Fica dopada, é covardia.

Bernardo - Eduardo, ela pode tomar remédio por tudo no mundo. Ela só não pode tomar remédio por uma coisa: por minha causa. Porque eu nunca quis o mal dela e nunca vou querer. Se eu ver a Júlia correndo na praia todos os dias, de 7h da noite às 8h da noite correndo no calçadão, o máximo que eu vou fazer é passar e buzinar. Meu irmão, eu nunca desejei e nunca vou desejar nada para ela porque ela nunca me fez mal. Eu nunca fiz mal para ela.

Eduardo - Foi o que eu falei. Ela entrou no projeto da minha vida. Não eu da vida passada dela. Sendo que o colégio lá [no exterior] só muda em setembro. E a gente já tava organizando para a gente ir [embora do Brasil]. E vem uma prisão dessas [Julia está em regime domiciliar]. Que a gente fica sabendo pela imprensa. Nem passava na nossa cabeça.

Bernardo - Posso te falar uma coisa de experiência própria, e que provavelmente vários advogados já falaram para você? A parada dela ali, cara, é politica, cara. É 100% política.

Eduardo - Eu também acho que é.

Bernardo - Você já viu algum defunto ficar tanto tempo no jornal?

Eduardo - Nunca vi.

Bernardo - Quanto tempo o Adriano ficou? Até hoje, ele sai [em reportagens]. Teve Fantástico [da TV Globo] outro dia. Por que ele está tanto no jornal?

Eduardo - Porque envolve, sei lá, o nome do presidente.

Ela tem que chegar e falar: 'Olha só, meu ex-marido era um louco, um lunático, um capitão do Bope totalmente maluco, que deitava na cama e a única coisa que ele fazia comigo, quando mal fazia, era me dar oi e tchau'

Bernardo - Pronto, cara. Porque envolve a porra do [Fabrício] Queiroz, que o Adriano era junto. Que o Queiroz o que fazia a rachadinha do Flávio Bolsonaro. E quem quer foder mais o Bolsonaro? A imprensa, cara.​

Ela [Julia] virou marisco. Ela ficou entre o rochedo... mas por que ela virou marisco, Eduardo? Porque todo mundo acha que ela...

Eduardo - (interrompe) Sabe tudo.

Bernardo - Pronto. Então se ela chegar e falar: "Não, eu sei isso aqui... ah, não vou fazer isso aqui", ela está fodida, porque nego vai agarrar ela até o inferno. Vão falar: ‘O cara deitava na cama e te confidenciava’".
Ela tem que chegar e falar: "Olha só, meu ex-marido era um louco, um lunático, um capitão do Bope totalmente maluco, que deitava na cama e a única coisa que ele fazia comigo, quando mal fazia, era me dar oi e tchau".

Até porque qual era o papel dela? Mulher [de Adriano da Nóbrega]. Só que quando ela entra nessa veneta de querer pegar os negócios dele e se municia de uma caralhada de homem que é a corja antiga dele... quem são os caras que estavam andando do lado dela? Um homicida, ex-polícia... três 121, assinado, três excluídos da polícia por homicídio... Pode perguntar para ela.

Eles são três caras [ligados a Adriano da Nóbrega e que passaram a acompanhar a viúva], Eduardo, que não têm nada a perder. Não prezam pela família, não têm um carvão no bolso para gastar. Porque quando você tem dinheiro, você fala: "Porra, não vou entrar nisso, não. Tá maluco?"

​Os caras não têm caminho, bandeira. E eu falei isso para ela, irmão. Eu olhei nos olhos dela, os olhos dela cheios d'àgua, eu falei: "Larga isso. Porque esses que estão atrás de você hoje são os que vão te foder. Você para eles é peça de reposição. Você não tem estrutura para bancar uma parada dessa. Sai fora, menina. Vai viver tua vida. Você é jovem, você é linda, você tem uma filha".

"Querem o Bolsonaro"

(Neste trecho, Eduardo Giraldes afirma que não deixaria a mulher falar de Jair Bolsonaro)

Eduardo - Isso daí, Bernardo [o passado], é uma dor que é dela, eu não posso ficar tocando. Todo mundo tem a curiosidade, normal, para entender a história. Eu não tenho. Eu não tenho.

Bernardo - Nem eu, cara. Nem eu.

Eduardo - Então quando começa esse assunto, ela falando dele, eu me levanto e saio. Não pergunto. Não sei quem era segurança, não sei quem matava, não matava, quem roubava, quem fazia o caralho, quem fazia prédio, eu não sei. Porque eu não pergunto. Eu acredito também que ela não deva saber, porque o Adriano era uma pessoa que não falava.

O Cleiton era muito amigo dele, fala que ele era um cara fechadíssimo.

Bernardo - Cara, você pergunta para ela o seguinte... quer ver mais uma prova? Quando você tem interesse nas coisas, o que você quer saber? Informação, né? Quanto mais informação, mais chance você tem. Quando estivemos juntos [Bernardo e Julia]. Pergunta se eu perguntei [de] um imóvel. Pergunta se eu perguntei [de] uma fazenda. Pergunta se eu perguntei [de] um gado. Pelo contrário. Eu falei: "Olha só, eu não tenho nada a ver com isso. Eu não quero um real. Mas eu também não quero um problema".

Porque eu podia chegar e falar: "Pô, aqueles imóveis lá, pô, são meus, eu que botei o dinheiro, eu que ajudei". Nunca. Nunca botei nada. Nunca ajudei nada. Não perguntei onde tinha uma esquina. Onde tinha um terreno. Onde tinha nada.

Eduardo - Ela tá muito (ininteligível) de falar por que o Bernardo estaria querendo fazer alguma coisa contra a gente se vocês nunca tiveram atrito nenhum. E ela fala: "Eduardo, [o Bernardo] sempre me tratou bem e na casa dele ainda me deu um conselho: 'Sai daqui'".

E a gente ia fazer isso. Não porque você deu esse conselho, não. É porque o meu trabalho é lá fora.

Bernardo - Sim, porque é o rumo natural da vida.

Eduardo - Você entendeu? O meu trabalho é lá fora.

Bernardo - Essa parte então até bate porque o que o menino me falou foi isso. "Cara, parece que ela vai enfiar a pica no teu cu. Porque estão querendo que ela faça alguma coisa, que ela foda alguém para ela não se foder novamente".

Pablo - Estão pressionando a menina, né?

Se ela chegar e falar: 'Não, eu sei isso aqui... ah, não vou fazer isso aqui', ela está fodida, porque nego vai agarrar ela até o inferno. Vão falar: ‘O cara deitava na cama e te confidenciava’

Bernardo - "Estão pressionando ela dessa forma, para ela foder alguém para ela não se foder". Só que é óbvio que o que querem dela não é o bobalhão aqui.

O que querem dela é que ela fale alguma coisa... O que eles querem não é que ela fale isso. O que eles querem é que fale de Bolsonaro. Isso é fato. Isso é óbvio.

Eduardo - Não vai falar.

Bernardo - Se ela souber, e ela quiser falar.

Eduardo - Mas se souber, eu também não vou deixar ela falar.

Bernardo - Se ela não quiser falar... meu irmão, até porque, sabe por quê? Vai acabar com a vida dessa menina.

Eduardo - E com a minha.

Bernardo - Vai acabar com a vida dela, irmão. Você imagina essa menina denuncia o Bolsonaro. "Olha só, o meu ex lá (Adriano da Nóbrega) estava todo dia com fulano de tal". Meu irmão... Ela vai foder com o cara. Ok, pode até foder. Mas vão acabar com a vida dela de verde, amarelo, azul e branco.

Eduardo - Bernardo, você mesmo falou: passarinho, se prender, ele canta. Pra cantar é de graça. Eu gastei R$ 6 [milhões] de entrada, consegui a domiciliar dela. Mais R$ 6 [milhões] agora, vou liberar o passaporte dela e vou embora, irmão.

Bernardo - E ela pode sair do país?

Eduardo - O passaporte tá preso.

Bernardo - Mas se liberar ela vai pedir autorização?

Eduardo - Quando saiu a prisão, eu fiquei sabendo pelos jornais. Tomamos susto. Beleza. Porra, o advogado cobrou R$ 6 paus para ela pegar domiciliar. Conseguimos a domiciliar.

Bernardo - O que eu soube é que ela tava com um tal de Catta Preta [o advogado Paulo Emilio Catta Preta, que representa a família de Adriano da Nóbrega].

Eduardo - O Catta Preta é dele [Adriano da Nóbrega]. (ininteligível) são meus [os advogados]. Não tem nada que envolva Adriano na vida dela hoje. Só o que ela sente dentro dela. Eu falei: "Guarda dentro do seu coração, isso daí é seu". Os advogados são meus. Eu peguei e paguei seis paus [milhões] e consegui a (prisão) domiciliar dela. Agora, hoje, o advogado cobrou mais seis para poder liberar para ela responder em liberdade e tirar a cautelar dela, que é o passaporte, e [ela] vai continuar respondendo em liberdade, e vamos embora.

Bernardo - E sabe por que tá acontecendo tudo isso? Porque lá atrás, em vez de olhar e falar assim: "Cara, não quero nada dessa porra", ela olhou e falou assim: "Porra, eu tenho uma filha pra criar, eu tenho um padrão de vida, eu não vou perder tudo. Eu vou ver o máximo que eu puder pegar".

"A viúva quer enfiar no teu c."

(No próximo trecho, eles falam do patrimônio que Adriano da Nóbrega teria deixado depois de morto, e que seria cobiçado pela viúva)

Bernardo - Tudo bem, cara. Beleza. Eu também não vejo, eu não ando, eu não sei [de Júlia]. O que aconteceu agora com esse rapaz que era amigo dela, que foi com ela, quando me encontrou, falando que "eu estou com ela". Tudo o que vender, 30% é dele. Eu ouvi isso da boca dela [Júlia]. Meu irmão, ok, beleza.

Eduardo - (ininteligível) Trezentos e poucos imóveis em Rio das Pedras. Quem vai lá pegar? Chamaram ela lá.

Bernardo - Rapaz, eu falei isso para ela: "Você vai perder isso tudo. Larga isso".

Eduardo - Não tem como. O Adriano não era empresário, irmão. Não era empresário. Se eu morrer hoje, ela tem uma fábrica, ela tem uma marca, é diferente. Chamaram ela lá uma vez. Quantos imóveis ele tem? É esse, esse e esse. "Tá bom. É tudo nosso. Tchau". Eu que não quero.

Não tem nada que envolva Adriano na vida dela hoje. Só o que ela sente dentro dela. Eu falei: 'Guarda dentro do seu coração, isso daí é seu'

Bernardo - Eu vou te falar o que eu vi. No começo, ela queria pegar [dinheiro e patrimônio deixado por Adriano da Nóbrega].

Eduardo - Normal, ela é a viúva.

Bernardo - Ela queria pegar. Tanto que houve uma venda de gado, de um gado que ele [Adriano da Nóbrega] tinha. Ele tinha gado no nordeste, no norte, uma porrada de gado. E [Júlia] falou na minha frente de valores que pegou.

Eduardo - Ela não pegou. Ela já estava comigo, Bernardo.

Bernardo - Do gado pegou.

Eduardo - Eu te garanto 100%. Não pegou. Ela não pegou o gado, ela não pegou Rio das Pedras [onde Adriano coordenaria a milícia e teria imóveis] nem as fazendas que ele tinha.

Bernardo - Isso aí eu não sei. Eu não tenho nem noção. Eu não sei nada do que esse cara [Adriano da Nóbrega] tinha. Eu nunca fiz negócio com ele. Aí vieram... até ele mesmo [Pablo] veio falar: "Pô, cara, mas não tem uns papeis assinados?" Nunca assinei nada. Não pode ter nada porque eu nunca assinei nada. Nunca fiz negócio. A única pessoa que tinha negócio com ele [Adriano da Nóbrega] era a Shanna. A Shanna registrou o ex-marido dela [de Júlia, Adriano da Nóbrega] como administrador da fazenda [herdada do bicheiro Maninho]. Registrou, assinou carteira. Papel assinado e o caralho. Eu não tenho nada, nunca tive nada. Então isso muito me estranhou quando começaram a querer botar o meu nome na história. Falei: "Cara, estão botando a pessoa errada".

Eduardo - Imagina eu. Caindo de paraquedas.

Bernardo - Eu vou te explicar onde você entra nessa história. Há mais ou menos um meses atrás, dez pra mais, dez pra menos, um amigo em comum de nós três aqui, procura um amigo meu e [fala]: "Pô, irmão, papo ruim demais". Eu falei: "O que foi?". "Pô, o cara [Eduardo Giraldes] que tá namorando lá, casado lá com a viúva [Júlia Lotufo], esteve aqui comigo e falou que a viúva quer enfiar o pau no teu cu, quer te foder inteiro, vai te arregaçar, vai falar um monte de merda com teu nome". Eu falei: "O quê?". Tô contando alguma mentira?

Eduardo - Essa parte eu não sei.

"Bonita, né?"

(Os dois seguem conversando sobre as ameaças de um prejudicar o outro. Eduardo conta como conheceu Júlia)

Bernardo - Eu nunca fiz mal nenhum para ela e muito menos para você. Eu nunca tratei ela mal [falam sobre mulheres com palavras de baixo calão e voltam a conversar sobre Júlia]. Pergunta para ela, quando ela esteve comigo. Ela é uma mulher bonita, hoje é sua esposa, eu respeito. Pergunta se eu desrespeitei ela. Se eu falei uma vírgula. O outro [Adriano] já estava debaixo da terra, caralho, foda-se. Sempre respeitei, irmão. Sempre tratei com o maior carinho. Falei [para Júlia]: "Cara, você tem uma filha, você é uma mulher jovem, bonita, esquece essa porra. Pega o que puder pegar, porque também não vai abrir mão de tudo, pega o que puder pegar, capitaliza isso e some no mundo. Porque daqui a pouco vão te foder".

A corja que colou nela ali, era óbvio que ela iria ser roubada porque é um bando de esfomeado.
Ainda falei: "Se você quiser posso te ajudar durante um tempo, até você se estabilizar, pagar a escola da tua filha". Ela olhou para mim e falou: "Be (ela me chamava de Be), não precisa. Não quero mesmo. Te agradeço de coração, mas não precisa".

Eu falei: "Tá bom. O que você precisar de mim, eu tô aqui". A corja toda que estava ali se afastou, ficamos eu e ela só, e ela se emocionou, chorou, o caralho. Eu falei: "Cara, você não tem estrutura para isso. Sai daqui. Quer o conselho de um bobo? Capitaliza o que você puder capitalizar, e sai daqui. Você vai ter uma vida plena, uma vida boa. Dinheiro não é tudo".

Eduardo - O Adriano [da Nóbrega] morre em fevereiro [de 2020]. Logo em seguida, eu esbarro com ela no (inaudível) Fratelli [restaurante no Rio de Janeiro]. Por coincidência, eu sou ex-cunhado do Clayton. Aí eu comentei: "Bonita". Ele falou: "É a esposa do falecido [Adriano]". Eu falei: "Caralho, bonita, né?". Beleza. Aí viramos amigos. Sem maldade, sem nada. Amigos. E ela estava morando na casa da mãe. Eu tinha um apartamento meu que estava, porra, vazio. Eu falei: "Fica lá". Sem maldade, sem nada. Pô, como tu vai cantar uma viúva que chorava 24 horas?

Com o tempo, a gente foi se envolvendo, envolvendo, envolvendo, em abril a gente já era amigo.

"Estamos conversados?"

(Neste trecho, Bernardo segue afirmando que nunca foi sócio de Adriano da Nóbrega e que não teria razão para matar a viúva)

Bernardo - Ele [Adriano da Nóbrega] teve 13 celulares apreendidos. Eu lembro na época, o meu advogado virou pra mim e falou: "Preciso me preocupar?". Eu falei: "Doutor, dorme. Dorme. Dorme porque eu não tenho o menor contato com esse rapaz [Adriano]". E não tinha. Ela [Julia] sabe disso. Ela melhor do que ninguém sabe disso.

Eu nunca assinei um papel, eu nunca tive uma relação profissional com o marido dela, nada, de cavalo, nunca. Nunca tive uma sociedade com o marido dela, nunca construí um prédio, uma casa, nunca comprei um lote de terra com o marido dela. Cara, não tem nada. Não tem nada, Eduardo. Eu não tenho absolutamente nada. Quando inventaram essa história toda, eu falei: "Meu Deus, que história que essa menina vai criar com o meu nome", porque não tem nada. Porra.

Além de tudo isso, eu sempre a tratei muito bem. Com respeito, como eu trato todo mundo. Com respeito, com educação, com gentileza, e com ombro, quando eu vi que ela tava fragilizada. E não foi ombro de homem para querer comer ela, não. Foi um ombro para dizer: "Sai daqui". Acho que fui o único que teve coragem de olhar na cara dela e falar o que realmente ela tinha que fazer. Porque o resto todo tava em volta dela "porra, agora tu é viúva, vai ficar tudo contigo. Vamo pega tudo, que ninguém vai tomar nada".
E esses mesmos que contaram essa história para ela foram os que tentaram trair ela, tentaram pegar o negócio dela.

Eduardo - Ela não ficou com nada, Bernardo. Isso eu te garanto. O advogado quem pagou fui eu.

A tornozeleira

(Neste trecho, o marido da viúva relata um pouco da rotina dela na prisão domiciliar)

Eduardo - Bernardo, a tornozeleira dela nunca descarregou. Nunca. Eu não deixo. Eu pego, boto na tomadazinha, igual celular. Dorme. Não mexo. Para não ter uma vírgula. Para não ter nada. Fica carregada 24 horas. Ela deitou? Tem que ficar três horas, né, Pablo. Fica seis. Ela dorme a noite toda e carrega. Aí quando eu levanto às 6h, vou lá e tiro.

"De coração"

(Neste trecho, eles começam a se despedir, dizendo que nada têm um contra o outro)

Pablo - Estamos falados, gente?

Bernardo - Cara, do fundo do meu coração, irmão. Não sei se você vai dormir 100% tranquilo. Mas, da minha parte, pode dormir 1000%, Eduardo. Esquece essa porra. Eu até brinquei [com outra pessoa]: sabe o que eu quero? Eu quero botar segurança para eles [Júlia e Eduardo]. Porque se acontecer alguma, vão achar que sou eu. Meu irmão, eu ajudo. Eu estou aqui para ajudar, não para atrapalhar. E outra coisa. Eduardo, nada.

(Falam de outros assuntos, e voltam ao tema)

Bernardo - Eu não tenho rabo preso com a Júlia em nada. Eu não tenho problema com ela em nada. Eu nunca tive nada. Não faz sentido ela querer me sacanear.

Eduardo - A Júlia não tem nada contra você.

Bernardo - Que bom. E nem eu contra ela.

Eduardo - Falei isso para o Pablo dez milhões de vezes: "Pablo, a Júlia nunca falou mal do Bernardo".

Bernardo - Vou dormir aliviado. Eu estava me sentindo mal.

 

 

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 Por: Mônica Bergamo, Folhapress

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