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Imigração para Argentina segue em alta, apesar da grave crise econômica

 

Foto: Reprodução

Mesmo em crise econômica, a Argentina se tornou um dos destinos mais procurados por imigrantes da América do Sul. Atualmente, são 2,2 milhões de estrangeiros – 5% da população do país -, de acordo com dados da ONU. Desse número, 95% vêm de países como Brasil, Venezuela, Paraguai, Peru, Bolívia e Chile.

A comunidade venezuelana foi a que mais cresceu na Argentina nos últimos três anos, com 300 mil residências outorgadas (mais informações nesta página). Outro grupo que aumentou foram os brasileiros, com 20 mil novos imigrantes de 2018 a 2021, segundo a ONU. Os últimos dados do Itamaraty apontam que 70 mil brasileiros vivem na Argentina. A maioria busca o país em razão da qualidade de vida e das universidades. 

A brasileira Maria Zilda Gramacho, de 35 anos, migrou com o marido e a filha de 14 anos, em dezembro de 2021. Com a vantagem do trabalho remoto do casal, a família não teve dúvidas na hora de fazer as malas e deixar Salvador, na Bahia. Ela disse que a maior motivação para migrar foi a busca por qualidade de vida.

“O Brasil se tornou insustentável. Aumento da violência e do custo de vida foram determinantes para buscarmos outro país. A Argentina, mesmo em crise, nos proporciona qualidade de vida. Buenos Aires é uma cidade segura, com diversas ofertas culturais e custo de vida baixo em relação ao Brasil”, afirmou. 

Mudança

Maria trabalha com atendimento ao cliente em uma empresa uruguaia e ganha em dólar. O marido também trabalha remotamente para um escritório de advocacia no Brasil e ganha em reais. Ela reconhece que o fator “moeda estrangeira” proporciona uma vida mais confortável na Argentina, onde a moeda nacional está cada dia mais desvalorizada. 

Depois de se planejar por um ano, pesquisando tudo sobre a Argentina, a psicóloga Iasmin Souza, de 30 anos, migrou sozinha, em fevereiro de 2022. Ela saiu de Salvador com a intenção de fazer pós-graduação na área de psicologia e também conquistar uma melhor qualidade de vida. 

“Parte do meu trabalho é remoto para o Brasil, e parte é feito aqui na Argentina. Percebo que meu trabalho é muito desvalorizado quando cobrado na moeda local. Ganhando em real, no entanto, o poder de compra é muito maior do que eu tinha no Brasil, além da qualidade de vida. Eu me sinto segura na rua, o transporte público funciona 24 horas por dia e ando com celular na mão sem medo.” 

Quem ganha em dólar ou real, por exemplo, tem vantagem na hora de fazer o câmbio. No mercado paralelo, onde a maioria da população imigrante que ganha em moeda estrangeira troca o dinheiro – R$ 1 vale 54 pesos, pela cotação do Wester Union. Já a cotação do dólar blue está em 290 pesos. 

Acolhimento

Outro fator que pode explicar a predileção de imigrantes sul-americanos pela Argentina é o país ser considerado pela ONU um dos mais receptivos na América do Sul para imigrantes, ocupando o 84.º lugar no mundo em porcentagem de estrangeiros em relação ao total da população. 

Para os imigrantes de países do Mercosul, o processo de residência é menos burocrático, pois não precisam apresentar vínculo de trabalho, estudo ou elo familiar direto, como é exigido das pessoas de outras nacionalidades. 

Para brasileiros, os trâmites são ainda mais facilitados, graças a um acordo bilateral. Imigrantes dos dois países conseguem a residência permanente de modo direto, sem a necessidade de receber a residência provisória antes. Todo o processo pode ser feito online.

Venezuelanos lideram ranking de entrada 

Os venezuelanos são os que mais migraram para a Argentina nos últimos anos. Em 2018, ano em que a economia se deteriorou na Venezuela, Luís Freitas tinha apenas 18 anos quando, junto com a mãe e o primo, atravessou a fronteira para o Brasil, depois de vender um carro que pagou os custos da viagem. O destino era Buenos Aires, onde um primo os esperava. 

“Não troco a segurança urbana de Buenos Aires pela de Caracas, ainda que a crise aqui não permita guardar dinheiro, comprar roupa ou viajar sempre que a gente deseja. O que eu ganho é suficiente para ajudar minha família, comer e pagar aluguel”, disse Freitas, de 24 anos, que tem um trabalho informal em uma loja de celulares, na capital, e mora com a mãe e o primo em um bairro de classe média de Buenos Aires. 

Petter Rondon, de 34 anos, migrou para a Argentina com a mulher em 2017. Eles também cruzaram a fronteira com o Brasil, tomaram um avião de Boa Vista para Foz do Iguaçu, de onde partiram para Buenos Aires de ônibus. 

Crise

Ele é desenhista industrial e ela, arquiteta. Hoje, os dois trabalham em um escritório de projetos de móveis, em Buenos Aires. “Por sorte, temos trabalho e nossa vida está muito melhor do que quando vivíamos na Venezuela.” 

Questionado se a Argentina poderia viver uma crise social como a Venezuela, Rondon é enfático: “Não acredito. Só tínhamos o petróleo. A Argentina tem o campo e muitas empresas”, disse.

Estadão Conteúdo

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