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Jovens minimizam sexo e casamento e valorizam saúde e família, diz Datafolha

 

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ISABELLA MENON
SÃO PAULO, SP

O jovem brasileiro quer saúde e família — e não quer sexo e casamento. Uma nova pesquisa Datafolha que mapeou essa parcela da população apontou que enquanto os dois primeiros temas são os mais importantes para o grupo, os outros dois estão no fim da lista dos assuntos prioritários.

Para o levantamento, foram realizadas mil entrevistas com pessoas entre 15 e 29 anos entre os dias 20 e 21 de julho em 12 capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza, Recife, Porto Alegre, Curitiba, Goiânia, Brasília, Manaus e Belém).

O instituto apresentou para esse grupo uma lista de 11 itens e pediu aos entrevistados que dissessem o grau de importância de cada um. A margem de erro é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%.

Segundo o levantamento, 87% dos jovens brasileiros classificam a saúde como muito importante, enquanto 13% afirma que ela é importante. Já a família aparece em segundo lugar, considerada muito importante para 81%, importante para 15%, mais ou menos importante para 2% e pouco importante para 1%.

Em seguida na lista aparecem em ordem estudo, trabalho, lazer, dinheiro, amigos e religião. Nas últimas posições estão sexo, beleza e casamento.

Último colocado no ranking, o matrimônio é visto como muito importante para 22%, importante para 28%, mais ou menos importante para 19%, um pouco importante para 17% e nada importante para 14%.

Entre as mulheres, a parcela que considera casamento nada importante é maior que para homens: 17% para elas versus 11% para eles.

Jairo Bouer, psiquiatra e especialista em sexualidade, diz que saúde não costuma aparecer na lista de prioridades da faixa etária analisada. Para ele, o resultado pode indicar um aumento da preocupação com prevenção, principalmente após a pandemia de Covid-19.

“Essa idade foi uma das mais impactadas, principalmente os adolescentes. Não me parece estranho que algumas prioridades de outras faixas de idade tenham sido incorporadas por eles”, diz.

O sexo nas últimas posições vai ao encontro de pesquisas feitas nos Estados Unidos e no Japão que também apontam a falta de interesse dos jovens pelo assunto.

O fácil acesso que eles têm a conteúdos eróticos, aplicativos e às próprias redes sociais, dão a impressão de que essas questões de sexualidade ficam mais na esfera do virtual”, diz Jairo.

Ele também não descarta que isso seja um reflexo da pandemia. “Eles mudaram, o corpo mudou, eles não estão satisfeitos com a autoimagem e autoestima. Acho que isso impacta na vivência da sexualidade.”

O desprezo dos jovens pelo matrimônio também não surpreende o psiquiatra, já que as pessoas têm se casado cada vez mais velhas –a tendência, assim, é que o tema ganhe importância conforme a pessoa envelheça.

Além disso, a própria percepção social sobre o assunto tem mudado, aponta o médico. “Será que é preciso mesmo ter um casamento ou estar em uma relação estável para ter filhos? A mulher quer mesmo ter filhos? Esses novos modelos e essa flexibilidade maior de modelos de relacionamento, paternidade, maternidade, também influenciam na questão do casamento”, afirma.

A designer Mayara Borges de Almeida, 25, que vive em São Paulo, também acha que a idade influência na importância que se dá ao casamento. “Sou formada, trabalho e estou em um relacionamento há seis anos, então já estou em uma fase pensando em me casar. Se os mais novos não estão num relacionamento, talvez isso influencie”, diz.

Ela afirma ainda que sua geração tem mais dificuldade para conseguir estabilidade financeira, o que poderia influenciar a menor importância do casamento.

A pesquisa aponta que o matrimônio ganha mais importância entre quem tem de 25 a 29 anos -nesta faixa, 31% consideram muito importante. Já no grupo de 15 a 19 anos, o número cai para 13%. Também é maior entre evangélicos (35%) do que entre católicos (20%).

Quanto ao sexo, Mayara considera que o prazer não é uma prioridade porque os jovens estão sempre “na correria”, em busca de outras conquistas. “A preocupação é em estudar, se formar, arrumar um emprego, conseguir se manter. O sexo acaba sendo algo superficial, diante de tantos outros problemas que já temos que lidar.”

A professora Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da USP, concorda com Jairo que a relação com o virtual pode influenciar na baixa importância do sexo.

“Enquanto a internet explode de estímulos sexuais, a atividade presencial pode sim estar se ressentindo”, diz ela..

“Como a libido é uma energia vital, que não necessariamente está atrelado ao sexo, pode ser que a atividade esteja sendo substituída por outra forma de entretenimento, tesão e prazer”, afirma.

Mestrando em antropologia na USP, Sasha Cruz chama atenção para outros pontos levantados pela pesquisa.

Aponta, por exemplo, que a preocupação com a saúde pode estar ligada a questões psicológicas, algo que ele considera cada vez mais presente nas conversas entre os jovens.

Por FolhaPress


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