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Mudança no Nubank é ruim para investidores e para a empresa, diz Itaú BBA


 Lucas Bombana e Clyaton Castelani

São Paulo, SP

A decisão do Nubank de deixar de ser uma companhia de capital aberto no Brasil é negativa para a governança da empresa e para os investidores minoritários por reduzir o nível de transparência das operações da fintech, segundo avaliação dos analistas Pedro Leduc, Mateus Raffaelli e William Barranjard, do Itaú BBA.

“Na prática, acreditamos que a divulgação de informações pode ficar mais pobre, e até menos comparável com as instituições financeiras locais”, dizem os analistas em relatório.

O Nubank informou na noite de quinta-feira (15) que pretende deixar de ser uma companhia de capital aberto no Brasil para continuar registrada somente na Bolsa de Nova York (Nyse).

Em comunicado, a companhia afirmou que a proposta tem o objetivo de “maximizar a eficiência e minimizar redundâncias consequentes de uma companhia aberta em mais de uma jurisdição”. Além disso, o Nubank disse que a decisão não afeta o compromisso de longo prazo do grupo com o Brasil.

Para a analista da Nord Research, Danielle Lopes, o Nubank não está mencionando o maior motivo para a decisão anunciada na véspera.

“A empresa não tem conseguido apresentar bons resultados e precisa prestar contas aos investidores e acionistas. Com o aumento da inadimplência e toda a mídia em cima dos números ruins, até os clientes do Nubank estão considerando encerrar suas contas no banco. É uma quebra de confiança de todos os lados”, disse Danielle em relatório.

ENTENDA O QUE MUDA A PARTIR DA DECISÃO DO NUBANK

Com a decisão anunciada pela fintech, as BDRs da empresa, sigla em inglês para Recibos Depositários Brasileiros, continuam presentes na B3, a Bolsa de Valores brasileira, mas passam a seguir as regras do mercado americano.

Tecnicamente, o conselho de administração da companhia aprovou o início de um processo de descontinuidade de seu programa de BDRs nível 3 na B3 para passar para recibos de nível 1. O plano do Nubank será submetido à aprovação da B3.

O BDR é um recibo negociado em Bolsa de Valores com lastro em ações listadas no exterior.

A diferença é que os papéis atuais respondem tanto às regras da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), quanto às normas da SEC (Securities and Exchange Commission), órgão regulador federal do mercado americano.

A medida acontece após o cofundador e presidente-executivo do banco digital, David Vélez, ter manifestado insatisfação com a visão de analistas de instituições financeiras no Brasil em relação às ações do Nubank.

Em entrevista à Reuters na semana passada, Vélez disse que parte dos analistas no Brasil parece esperar do Nubank rentabilidade maior de forma mais imediata, mas que há etapas a serem percorridas antes que sua tese se confirme.

Das 17 casas de análise que acompanham a ação do Nubank, segundo dados da Refinitiv, três têm recomendação ‘underperform’ (desempenho abaixo da média de mercado), todas elas no Brasil (Itaú BBA, Bradesco e Santander). O BTG Pactual tem recomendação neutra.

O QUE MUDA PARA QUEM TEM BDR DO NUBANK

Uma vez implementada, a operação dará aos donos de BDRs da companhia a opção de receber ações ordinárias classe A negociadas na Bolsa de Nova York, na proporção de 6 BDRs para cada ação. Portanto, para optar por essa alternativa, o investidor tem que possuir um mínimo de 6 BDRs.

Outra opção será trocar os BDRs de nível 3 por papéis de nível 1, na proporção de um para um. Por fim, os investidores do Nubank na B3 poderão vender seus papéis.

“Nas próximas semanas, após aprovação pelas autoridades locais, o Nubank comunicará mais detalhes do processo faseado”, informou a fintech no comunicado.

No final do ano passado, em meio ao processo de abertura de capital na Bolsa dos Estados Unidos, o Nubank criou o programa NuSócios, como forma de convidar seus clientes a se tornarem sócios da empresa -“sem nenhum custo”, segundo a companhia- por meio do recebimento de um BDR por pessoa.

Na ocasião, a fintech informou que iria destinar até R$ 225 milhões para a destinação de BDRs para os clientes, que poderiam vender os papéis após o prazo de um ano, ou seja, em dezembro de 2022. No comunicado divulgado nesta quinta, a fintech disse que os clientes que receberam os BDRs poderão converter ou vender os papéis antes do prazo inicialmente estipulado, em cronograma a ser ainda definido.

Desde a abertura de capital, em dezembro de 2021, as ações do Nubank afundam cerca de 50%, em um cenário de alta dos juros nos mercados desenvolvidos que tem levado a um questionamento crescente por parte dos investidores sobre a capacidade das novas empresas digitais de se tornarem lucrativas nos próximos anos.

AÇÕES DO NUBANK TÊM FORTE QUEDA NA BOLSA NESTA SEXTA-FEIRA

Os analistas do Itaú BBA acrescentam que o Nubank citou uma redução da complexidade relativa à divulgação de relatórios imposta pela legislação do mercado brasileiro para tomar a decisão.

“No entanto, os benefícios de custo de não ter que cumprir este requisito não foram quantificados pela empresa”, apontam os especialistas.

Para Danielle, da Nord, o que o Nubank não quer que o mercado saiba é que a sua saída não é pelo custo – “que é irrisório na conta final”, em torno de R$ 1,5 milhão ao ano, aponta a especialista-, mas sim pela escolha de tentar manter os clientes longe das notícias ruins a respeito do desempenho de suas ações.

A mudança no programa de BDRs, diz a especialista, permite mais flexibilidade ao Nubank, que fica menos exposto às normas da CVM no quesito prestação de contas, o que deve deixar a fintech mais distante dos holofotes.

“Se o Nubank não está com uma imagem positiva na mídia, o cliente que utiliza a conta-corrente, talvez, pode ter a visão de que os motivos vão além dos resultados, e entender que o negócio está se deteriorando”, diz a analista da Nord, acrescentando que essa percepção a respeito da fintech poderia levar a uma migração de correntistas para outra conta digital, fazendo com que o banco perdesse massivamente o volume de clientes captados.

As ações do Nubank negociadas na Bolsa de Nova York (Nyse) operavam em forte queda de 6,1% nesta sexta-feira, por volta das 12h50, enquanto os BDRs cotados na B3 recuavam 5,2%.

Para o analista Carlos Herrera, estrategista-chefe da Condor Insider, as regras da SEC para controle e acompanhamento da empresa que emite as ações são menos rigorosas do que as brasileiras. “Essa será a principal diferença para o investidor”, comentou.

Procurado no início da tarde, o banco não havia se manifestado até as 16h desta sexta.

No comunicado divulgado na quinta, o Nubank disse que, “para apoiar a simetria entre as informações publicamente disponíveis para ambos os mercados, o Nubank se compromete a continuar com a tradução de todos os documentos exigidos pela SEC para português.”


Por FolhaPress


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