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Suspeita, ONG de Dani Alves já tem o dobro de recursos da CBB para basquete


 Criado em maio do ano passado, o Instituto DNA, do jogador de futebol Daniel Alves, já tem pelo menos o dobro de recursos públicos para gerir no basquete brasileiro na comparação com a própria Confederação Brasileira de Basquete (CBB). Responsável pela organização da Copa América Masculina, marcada para o segundo semestre deste ano, o Instituto DNA ainda prometeu criar uma seleção permanente de 3x3 e realizar um grande evento da modalidade ainda neste ano.

A entidade, porém, pode pular fora desses projetos depois que a Folha de S.Paulo revelou, ontem (5), que o instituto é, na verdade, uma "ONG de prateleira". Incomodado com a repercussão negativa do fato, e vendo inclusive seu futuro na seleção brasileira ser colocado em xeque -- como sugeriu a colunista do UOL Esporte Milly Lacombe --, Daniel Alves cogita não levar adiante dois projetos de Lei de Incentivo que, juntos, já captaram cerca de R$ 5 milhões. Foi ele, inclusive, quem assumiu a responsabilidade de pagar US$ 500 mil à Federação Internacional de Basquete (Fiba) como 'fee' (taxa) para realizar a Copa América no Brasil. Por enquanto o valor não foi desembolsado.

Atuando no Barcelona, Dani Alves tem no empresário Maurício Carlos seu braço no Brasil. Quando o jogador assumiu o comando do antigo Instituto Liderança, que pertencia a um ex-técnico de basquete, mudando o nome da ONG para Instituto DNA,ele atribuiu a Maurício o cargo de diretor-executivo/CEO. O lateral ficou como presidente. Ainda antes de voltar ao Brasil para jogar pelo São Paulo, Daniel já pensava no pós-carreira e pretendia ter um instituto social e passar a trabalhar com marketing esportivo, seguindo os passos de Ronaldo Fenômeno. Ele encontrou em Maurício um consultor com experiência na área, com anos de trabalho para entidades como a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) e a Confederação Brasileira de Wrestling -- a coluna revelou, na segunda (4), que a Polícia Federal apontou que o empresário teria pago propina ao então presidente da CBW por um contrato.


O basquete chegou à dupla através de uma conversa com o ex-jogador da NBA Leandrinho Barbosa, que falou das dificuldades enfrentadas pela CBB. A entidade queria organizar a Copa América Masculina de 2021 no Brasil, mas não tinha dinheiro para pagar um fee de US$ 1 milhão, nem a documentação necessária para receber verbas públicas. Quando Daniel Alves topou entrar no negócio, e sabendo que a concorrente Venezuela corria o risco de sofrer boicote do time dos EUA, conseguiu que o valor fosse reduzido a US$ 500 mil e o negócio foi fechado --nessa época, o evento já tinha sido adiado para 2022 por causa da pandemia.

O lateral entendia que a Copa América seria seu cartão de visitas no ramo do marketing esportivo. A partir de então foi construído um plano de negócio complexo, com a CBB informando a imprensa que o evento era uma parceria dela com a "holding de Daniel Alves", sem dar mais detalhes. Na época, Maurício já foi apresentado como diretor-executivo do evento, mesmo cargo que ele ocupa na ONG de Dani Alves. Em novembro, o Instituto DNA conseguiu aprovar na Lei de Incentivo ao Esporte um projeto de R$ 5 milhões para, com essa verba, pagar o fee e a hospedagem de atletas e outras pessoas envolvidas no evento.

Paralelamente, a deputada Celina Leão (PP-DF) se comprometeu com uma emenda de R$ 3,5 milhões para a mesma ONG, liberada pela Secretaria Especial do Esporte em dezembro. Os projetos estão relacionados porque, ainda que a deputada que representa o Distrito Federal, a verba visa atender jovens também em Pernambuco e na Bahia. Esses projetos sociais levariam jovens para lotar as arquibancadas das então três sedes da Copa América: Recife, Brasília e Salvador, atendendo uma exigência da Fiba de ter 70% de lotação dos ginásios. Mas a arena de Salvador acabou não sendo aprovada pela federação internacional e o torneio será apenas no Recife e em Brasília.


Ainda em novembro, na mesma reunião da Comissão Técnica da Lei de Incentivo ao Esporte, foi aprovado que o Instituto DNA captasse R$ 1,1 milhão para realizar o "Circuito Nacional de Basquete 3x3", um projeto ligado à empresa de Maurício Carlos -- em dezembro, a empresa dele, a MCS, realizou um "piloto" do evento em um shopping em Salvador. A coluna apurou que R$ 4,5 milhões já foram doados para esses dois projetos, pela Usiminas, de Ipatinga (MG).

Para a verba ser de fato executada (ou seja, o dinheiro poder ser utilizado pela ONG) é necessária uma segunda aprovação na Comissão Técnica da LIE, agora com análise do projeto em si, não apenas da documentação da entidade. Diante da repercussão negativa, Daniel Alves pode não cumprir essa etapa e abortar o projeto. Contando os R$ 3,5 milhões da emenda parlamentar, a ONG de Daniel Alves já tem ao menos R$ 8 milhões em recursos públicos para gerir no basquete, mais do que o dobro dos R$ 3,6 milhões prometidos pelo COB à CBB.

Mas a receita do Instituto DNA é ainda maior, porque a Usiminas também se comprometeu a pagar a realização de um grande meeting internacional de 3x3 em Ipatinga em outubro e a prefeitura assinou na semana passada um protocolo de intenções para construir um centro de treinamento para a seleção da modalidade, sempre com Daniel Alves como intermediário. Alguns dos principais atletas do país foram contratados para jogar pela cidade.


Ao mesmo tempo em que o recauchutado Instituto DNA trabalha com o basquete, o Instituto Daniel Alves, esse nascido do zero e com recursos do próprio jogador, inaugurou sua sede no fim do mês passado em Lauro de Freitas. A cidade, da região metropolitana de Salvador, ficou conhecida no meio esportivo por ter sido a sede do Centro Pan-Americano de Judô, em acordo intermediado entre Bahia e CBJ intermediado pela MCS de Maurício Carlos. Também foi em um contrato para realizar um evento em Lauro de Freitas que o presidente da CBW teria cobrado propina de Maurício Carlos. Procurada, a CBB não respondeu. Maurício Carlos não retornou as tentativas de contato da reportagem.


Rubens Cavallari/Folhapress    Redação

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