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Trabalhadores estão cada vez mais com a saúde mental afetada; veja se é o seu caso


 “Já dizia o ditado: ‘mente vazia, oficina do diabo’”. E é bem assim que muitas vezes a necessidade de trabalhar é atribuída ao ser humano, para além de ser, naturalmente, um meio de sobrevivência. Porém, nem sempre o trabalho é um ambiente agradável, onde é possível manter a saúde mental em dia, principalmente desde 2020, quando passamos a enfrentar uma pandemia.

De acordo com uma pesquisa da Inpress Porter Novelli, em parceria com o Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados (IBPAD), pelo menos 70% dos trabalhadores se sentem mais nervosos, tensos ou preocupados nos últimos tempos, indicando que a saúde mental dos brasileiros piorou.

“Seguindo o que diz a Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde mental de um indivíduo é um estado de bem-estar em que ele está ciente de suas próprias habilidades, podendo enfrentar as tensões normais da vida, trabalhar de forma produtiva e frutífera, e ainda, capaz de contribuir com a sua comunidade”, explica o psiquiatra Rogério de Jesus.


Mas a necessidade de estar bem mentalmente ainda não foi percebida pela grande maioria das empresas, que, por vezes, pensam no funcionário como uma “máquina” responsável por executar determinadas funções. Um exemplo disso foi quando o trabalho entrou no ambiente domiciliar do trabalhador, por meio do home office: “Essa modalidade trouxe consigo um grande sofrimento, pois apesar de estar em casa a cobrança era a mesma que no trabalho ou até maior, sem perceber que as questões domésticas também afloravam”, explicou o psiquiatra.

Psiquiatra Rogério de Jesus
Psiquiatra Rogério de Jesus

O estudo mostra ainda que a ansiedade acentuada foi citada por 55% dos entrevistados, o estresse (51%) e a tristeza (49%). Dos entrevistados, 62% disseram que a empresa onde trabalha não ofereceu qualquer suporte relacionado à saúde mental, 16% foram a psicólogos ou psiquiatras e a maioria (57%) não buscou ajuda.


Além disso, outras pesquisas apontam que 44% já passaram pelo burnout – síndrome que designa o esgotamento mental e físico relacionado ao desempenho de funções profissionais e que ao contrário das demais síndromes, ela é exclusivamente ligada ao trabalho e devido ao crescimento de casos, a OMS a incluiu, em 2019, na Classificação Internacional de Doenças (CID) e recentemente, passou a ser considerada doença ocupacional.


Rogério explica que “cobranças e cargas horárias excessivas, desorganização no ambiente empresarial, falta de benefícios e medo da demissão, estão entre os principais fatores que podem contribuir para o surgimento de distúrbios psicológicos dos funcionários”.

Esse diagnóstico se encaixa exatamente no caso de Márcia Cerqueira, recepcionista. “Sempre fui proativa e muito comprometida com minha rotina no trabalho. Era destaque na empresa, recebia elogios e promessas de crescimento, mas depois de um tempo isso não acontecia e, ao invés de me incomodar, eu comecei a me questionar se realmente eu estava trabalhando direito, e isso me frustrou de uma forma que começou a transparecer. Não tinha ânimo para trabalhar, ia no automático”, descreve Márcia.

Pouco tempo depois, ao compreender por completo o problema, Márcia chegou a procurar os chefes para tentar solucionar. “Quando a empresa enxugou o quadro, comecei a me sentir exausta. E coisas que eu costumava viver no trabalho, como constantes reclamações, ofensas e ameaças tomaram uma proporção imensa, de modo que aquela frustração se juntou com o medo. E os relatos desses acontecimentos a minha liderança, simplesmente não tinham a atenção necessária”.


Márcia Cerqueira
Márcia Cerqueira

“Comecei a ter fortes dores de cabeça, não conseguia dormir direito, só em saber que teria que passar por tudo isso de novo no dia seguinte. No trabalho passei a ter falta de ar, o coração acelerava, sentia partes da minha cabeça formigarem. Procurei vários médicos, fiz exames e acabei sendo encaminhada para um psiquiatra que diagnosticou ansiedade, depressão e fobia social como causa o ambiente de trabalho. Depois de alguns atestados ele solicitou o afastamento pelo INSS


Dados do Ministério da Previdência Social, sinalizam que nos últimos anos aumentou em 20 vezes a concessão do auxílio doença e aposentadoria para trabalhadores registrados com invalidez devido a transtornos mentais.

Para o médico psiquiatra, é preciso trazer consciência sobre a importância da saúde mental e as empresas devem ter um papel importante nisso. “As pesquisas indicam urgência no trato da questão. Existe  um entendimento de que é normal o indivíduo sentir-se tenso, nervoso ou preocupado quando se trabalha muito. Há uma naturalização de que as pessoas podem se sentir assim mesmo, mas isso é preocupante, porque todos estão passando por isso, porém, falando muito pouco ou quase nada sobre a situação, deixando inclusive de pedirem ajuda”, salientou.

“Nesse meio tempo, entre uma consulta e outra, tinha crises, achava q eu ia morrer, ou na rua, achava q alguém iria me matar. Eu não conseguia viver, o medo me paralisava, a tristeza, a decepção, a frustração, me consumiam. Passei a tomar cinco medicações por dia: duas para dormir, um antipsicótico, um antidepressivo e um ansiolítico, e tinha um para tomar se eu tivesse uma crise de pânico”, explicou Márcia.


O papel das empresas

Ao contrário das condições físicas de uma pessoa, os problemas na saúde mental nem sempre são perceptíveis, mas cabe às empresas, portanto, desenvolverem ferramentas para os funcionários lidarem melhor com os problemas, objetivando que suas equipes estejam mais saudáveis e satisfeitas nos seus trabalhos.

 O estudo sinaliza também que 29% relataram dificuldades de exercer alguma função por não estarem bem mentalmente, o que consequentemente afeta também as organizações trazendo consequências no clima organizacional, afetando a produtividade, o desempenho, a integração entre as equipes, a capacidade física e funcionamento diário, ocasionando absenteísmo (faltas) e maiores taxas de contratação e demissão.


Segundo Rogério, é necessário implementar um programa de saúde mental nas empresas que ajudem os trabalhadores a cuidarem melhor do seu psicológico, para que assim, melhore o clima organizacional e otimize a integração entre as equipes. “Falar abertamente de saúde mental na empresa é necessário para que o funcionário possa buscar ajuda assim que perceber que não está bem, evitando que os casos se agravem”, explicou o médico.

As empresas também podem ofertar é ajuda os funcionários a prosperarem em seu trabalho e vidas pessoais, com capacitação, incentivo à prática de exercícios físicos, alimentação saudável, ferramentas de auto avaliação, psicólogos e outros.


Andrea Piacquadio/ Pexels    Letícia Rastelly

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