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Pandemia aumenta a evasão escolar na rede particular de ensino


 Em quase dois anos de pandemia, as escolas privadas brasileiras amargam o aumento nos números de evasão escolar, principalmente na educação infantil. Foram quase 600 mil alunos a deixarem os colégios. Desses, 298 mil na creche e 308 mil na pré-escola, uma queda de 21% e 25%, respectivamente. Os números representam uma queda de quase 10% nas matrículas.

De acordo com a apuração do jornal O Globo, um dos fatores que causou esse baque nas escolas é a dificuldade de promover aulas de educação infantil na forma remota. Para especialistas e representantes do setor, as crianças menores possuem pouca autonomia para estudarem sem acompanhamento especializado. Sem falar que a creche não é uma etapa obrigatória.

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A pandemia também causou perdas financeiras para alguns pais que optaram por substituir a escola particular por ensino público. Como é o caso do pequeno Luca de três anos que no início de 2020 foi matriculado na escola privada de Rio Bonito, na região metropolitana do Rio de Janeiro, mas, foi para escola pública no final do ano. “Além de o meu filho não ter se adaptado ao online porque as aulas não prendiam a atenção dele, existia uma cobrança pedagógica muito grande da escola para entregar semanalmente desenhos, pinturas, atividades, e estávamos em um período muito conturbado. Como eu estava pagando por algo que não estava sendo aproveitado e por, na época, pela idade, ainda não ser obrigatório que o Luca estivesse matriculado, esperamos acabar o ano e tiramos ele da particular” relata a mãe de Luca, a bibliotecária, Carina Volotão.

Com a retomada das atividades presenciais e retomada econômica nesse ano, Carina  matriculou Luca novamente numa escola privada. “A escola pública não deixa nada a desejar, é muito similar ao que a particular está entregando agora. Fizemos essa escolha por questões mais estruturais: de merenda, bebedouro, espaço em sala de aula. Na escola particular, posso até cobrar mais da instituição que respeite as normas impostas pela pandemia”, diz a bibliotecária.

Essa oscilação no mercado educacional com perdas e agora procura por matrículas só deve se normalizar no próximo ano. O presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares, Bruno Eizerik afirma que a pandemia fechou muitos colégios e agora em 2022 com o retorno das atividades de forma presencial a dificuldade é achar escola com vaga. ”As que conseguiram manter as portas abertas estão recusando alunos por falta de vagas” afirma Eizerik.

As escolas da rede pública sofreram com a falta do planejamento. Para a diretora do Centro de Políticas Educacionais da FGV-RJ e ex-secretária municipal de Educação do Rio, Cláudia Costin, as secretarias de educação fazem o planejamento de vagas de um ano para o outro baseado no total de matrículas das redes pública e privada. No entanto, um fenômeno muito comum em 2020 e 2021 foi o de pais que decidiram tirar seus filhos da creche e pré-escola da rede privada e não os colocaram na rede pública.

“Nesse ano, quando essas crianças chegaram no 1º ano do fundamental, essas famílias procuraram a rede pública, que, em alguns casos, foram pegas com um planejamento subdimensionado. Em São Paulo, por exemplo, faltou vaga porque ninguém tinha calculado essas crianças” explica Costin.

Eizerik confirma que as escolas privadas também estão vendo cada vez mais os alunos chegarem ao 1º ano sem terem cursado a educação infantil — o que, na avaliação de Costin, traz problemas pedagógicos importantes. O Brasil decidiu, em 2014, que a pré-escola é uma etapa obrigatória de ensino para as crianças de 4 a 5 anos.

“Os impactos de não cursar pré-escola não são pequenos. É uma etapa que desenvolve com mais intencionalidade as chamadas competências socioemocionais, como a persistência, o trabalho em grupo, saber lidar com os colegas e entender que eles também têm direitos. São habilidades que vão ser fundamentais para as crianças desenvolverem competências cognitivas” alerta Costin. “ Além disso, é nesse momento em que se faz a exposição ao mundo letrado. Neste momento, a professora conta histórias de livros, a criança entende o som da letra, cria consciência fonológica”.

No ensino fundamental, os anos iniciais (do 1º ao 5º) das escolas privadas foram os mais afetados. Nessa etapa, houve uma perda de 265 mil estudantes, o que significa uma queda de 9% do total das matrículas.  Os anos finais do fundamental (do 6º ao 9º) tiveram uma contração de 2%, com a perda de 37 mil estudantes. E só o ensino médio conseguiu manter o mesmo patamar de estudantes. “O ensino remoto conseguiu atender esses alunos, por isso não houve evasão” argumenta Eizerik.


Agência Brasil    

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