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Ex-presidente da Petrobras diz que chegou a ignorar mensagens de Bolsonaro


 O ex-presidente da Petrobras Roberto Castello Branco disse, nesta segunda-feira (28) no programa Roda Vida, da TV Cultura, que chegou a ignorar mensagens do presidente Jair Bolsonaro (PL) questionando o aumento dos combustíveis durante sua gestão.

A entrevista aconteceu no dia em que o atual presidente da companhia, general Joaquim Silva e Luna, recebeu uma comunicação de que deixaria o comando da estatal. Para seu lugar, o governo indicou o economista Adriano Pires.

Doutor em Economia pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), com passagem pela Universidade de Chicago, ele foi indicado para o cargo em 2019 pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.


LEIA MAIS:Saiba quem é Adriano Pires, o indicado de Bolsonaro para comandar a Petrobras

No ano passado, Castello Branco foi afastado por uma decisão do presidente Bolsonaro, após reajustes de preço efetuados pela Petrobras e de falas a favor da privatização de empresas estatais.

Nesta segunda, o economista disse que chegou a ignorar mensagens de Bolsonaro, questionando o motivo do aumento de preços dos combustíveis.


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"As pressões se fazem na forma de recados, mensagens (...) mas continuei fazendo o que achava certo, para desgosto de alguns. [O presidente Jair Bolsonaro] chegou a me mandar mensagens e eu simplesmente não atendia. Eu fornecia informações ao ministro Bento [Albuquerque, de Minas e Energia] sobre os preços estarem subindo."

Ele discordou do fundo de estabilização de preços de combustíveis que o futuro presidente da empresa, Adriano Pires, havia proposto durante uma entrevista recente. "É um problema administrativo, já que o dinheiro é administrado pelo governo. Os recursos, muitas vezes, não vão para a destinação, surgem problemas sérios. São problemas paliativos que não resolvem."


O certo, diz, era o país ter feito as reformas fiscais para poder dar um subsídio temporário. "Mas gastamos com crédito tributário, bilhões em emendas do relator. O Congresso aloca muito mal os nossos recursos."

"Para as pessoas pobres, que o governo, e não a Petrobras, faça um programa no estilo auxílio gás. Mas não com os recursos da companhia, não financiar com os recursos dos dividendos. Por que não tirar dinheiro das emendas de relator, do fundão eleitoral para subsidiar para os mais pobres?", questionou.

Sobre as pressões que devem cair sobre o novo presidente da companhia, Castello Branco


 afirmou que ninguém está blindado. "O presidente da República chega e muda tudo (...) a


 única questão é o custo político."


Castello Branco também definiu Bolsonaro como "uma pessoa humilde, realmente pouco dotada de conhecimentos", mas disposto a reconhecer essas limitações. "Ele delegou ao Paulo [Guedes] vários ministérios, mas gradualmente, ao longo de 2019, veio aflorando o populismo."

Ele também avaliou que o presidente não deve conseguir novamente apoio da maior parte dos agentes do mercado este ano, como conseguiu em 2018, e que a Faria Lima já vem penalizando as ações da Petrobras há algum tempo.

O ex-presidente da companhia começou o programa dizendo que a Petrobras tem tido dois presidentes, em média, por ano, o que passa sinais ruins para o mercado e para a sociedade.


"Embora alguns mereçam, os presidentes são demitidos por circunstâncias políticas e temos três demitidos pelos preços dos combustíveis: Pedro Parente, eu e agora o general [Silva e Luna]", disse.

Ao mencionar o atual momento, de pressão sobre os preços dos combustíveis, que se intensificou com a guerra na Ucrânia, ele disse que a facilidade de interferência por parte do governo na companhia coloca a Petrobras em um impasse constante.

"São sinais ruins, de pressões por interferências nos preços. A Petrobras é uma empresa de economia mista. Essa é uma situação insustentável em que ela tem de servir a dois senhores: o governo e os acionistas privados."


A crise na companhia acontece enquanto o consumidor tem sentido no bolso os aumentos nos postos de combustíveis. Em quase um ano da gestão de Silva e Luna, os preços da gasolina subiram 27% e os do diesel, 47%. O botijão de gás subiu 27% e o GNV (gás veicular), 44%.

Pelos efeitos do conflito no Leste Europeu e pela pressão do presidente, que deve tentar a reeleição este ano e teme os efeitos da alta dos combustíveis em sua popularidade, a empresa chegou a segurar o repasse da alta do petróleo por quase dois meses.

Questionado sobre a política de paridade internacional de preços ser alvo de críticas tanto pelo presidente Bolsonaro quanto pelo ex-presidente Lula (PT), que lidera as pesquisas de intenção de voto, Castello Branco defendeu a atual política da petroleira.


"Todas as tentativas de fugir da regra dos preços de mercado resultaram em desastre. As perdas de 2011 a 2014 se refletiram em termos de arrecadação, a Petrobras teve de reduzir ao mínimo os seus investimentos em campos de petróleo", disse o ex-presidente.

Para Castello Branco, não cabe à Petrobras fazer política pública. O ex-presidente da companhia também disse que a Petrobras tem a escolha de deixar prevalecer a racionalidade econômica ou ceder e perder dinheiro.

Nesta segunda, ele também voltou a defender a privatização da petroleira durante sua participação no Roda Viva.


Para o ex-presidente da estatal, a Petrobras tem dois grupos que se acham donos da empresa: os sindicalistas e o presidente da República, que defendem seus interesses pessoais e políticos —os quais não são benéficos para a companhia.

"Por isso defendo a privatização da Petrobras (...) Uma das coisas que procurei fazer foi acabar com monopólios —do gás, do refino." ​

Em sua visão, o presidente Jair Bolsonaro não fala sério quando menciona uma privatização da Petrobras. "O Brasil tem muitas vacas sagradas. Não vejo uma disposição real para privatizar a Petrobras."



Wilson Dias / Agência Brasil    Folhapresss

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