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Entenda a história da Ucrânia, do estado de Kiev à independência da União Soviética


 País de 45 milhões de habitantes -população semelhante à do estado de São Paulo-, a Ucrânia ocupa o centro do xadrez geopolítico global após ser invadida pela Rússia, país vizinho com o qual formou por décadas a União Soviética, até que, por meio de um referendo popular, tornou-se independente.

Governada por um comediante sem experiência política, o outsider Volodimir Zelenski, o país tem economia essencialmente agrícola. A história com a Rússia remonta ao século 17. Ainda há, mesmo na historiografia, discussões sobre quando foi de fato formado o Estado ucraniano.

Parte dos pesquisadores e cidadãos diz que ele já existia no século 17; outros afirmam que nasceu na década de 1910, pré-União Soviética. Há ainda os que defendem que só se deve falar em uma Ucrânia consolidada após o fim do bloco soviético.

O período anterior à União Soviética em 5 pontos 1) A formação do Estado de Kiev, nome hoje dado à capital da Ucrânia, teve início no século 9º. Importante rota de comércio, o local esteve sob a influência da fé cristã ortodoxa. O domínio regional definhou, porém, ao longo dos séculos seguintes, quando Kiev foi sucessivamente ocupado por outros reinos, entre eles o lituano e o polonês.

À época, não havia diferenciação entre russos, ucranianos e belarussos -fator usado pelo presidente Vladimir Putin para validar seu argumento de que russos e ucranianos são um povo só.

2) Já em meados do século 17, a relação com o então Czarado da Rússia -anterior ao Império Russo e à União Soviética- começou a se estreitar, com um acordo firmado para a proteção do território. Historiadores divergem até hoje sobre o assunto: alguns dizem que o tratado da época legitimou o domínio russo, enquanto outros dizem que houve, já ali, reconhecimento russo da autonomia da Ucrânia.

3) Ainda no século 17, mas já nas décadas finais, o chamado Tratado da Paz Eterna dividiu o território conhecido hoje como Ucrânia. A maior parte do oeste foi absorvida pelo Império Russo ao longo do século seguinte, por meio de divisões do reino da Polônia.

4) A queda do Império Russo e o consequente estabelecimento de uma monarquia constitucional promoveu certa abertura para a vida nacional ucraniana. A proibição do idioma ucraniano expirou, e a introdução da Duma, uma assembleia na qual, em tese, representantes da sociedade local poderiam se manifestar, permitiu que ucranianos pressionassem e falassem sobre seu desejo de criar um Estado.

5) Em novembro de 1917, o Conselho Central da República Popular da Ucrânia declarou independência. Logo, porém, iniciou-se uma guerra com a Rússia bolchevique, que não aceitou o desmembramento do território. Em um manifesto ao povo ucraniano, Vladimir Lênin disse que não poderia aceitar a existência de uma Ucrânia independente.

A UCRÂNIA NA URSS

1) Após a guerra, a República da Ucrânia entrou na órbita da URSS e foi acoplada ao bloco. Data da época um dos episódios mais sombrios da história ucraniana, o Holodomor ("holod", de fome, e "mor", de praga ou morte), quando mais de 3,3 milhões de ucranianos morreram de fome durante o regime soviético. Há vasta discussão sobre a interpretação histórica do período.

2) Leonid Kravchuk, líder da República da Ucrânia, declarou a independência do país em relação a Moscou em 1991, em meio ao fim da União Soviética. Um referendo popular foi realizado, e mais de 90% dos respondentes apoiou a independência. Kravchuk foi eleito presidente.

Galeria União Soviética através da câmera Veja imagens da exposição "União Soviética através da câmera" https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/nova/41095-uniao-sovietica-atraves-da-camera *

O PÓS-INDEPENDÊNCIA

1) Em 1994, Leonid Kuchma venceu a eleição presidencial. Numa guinada autoritária, ele conquistou outro pleito, em 1999, com suspeitas de irregularidades. Anos depois, em 2004, o candidato pró-Rússia Viktor Yanukovich foi declarado presidente, mas as alegações de fraude eleitoral desencadearam protestos no que se tornou conhecido como a Revolução Laranja, levando a uma nova votação. O ex-premiê pró-ocidente Viktor Yushchenko foi eleito presidente.

2) Yushchenko assumiu em 2005 com promessas de tirar a Ucrânia da órbita de Moscou, caminhando em direção à Otan, a aliança militar ocidental, e à União Europeia (UE). Três anos depois, a Otan deu sinais de que permitiria à Ucrânia se somar à aliança.

3) O presidente ucraniano se distanciou do Ocidente e reviveu laços econômicos e políticos com Moscou, levando à insatisfação popular em 2014. Os protestos tornaram-se violentos, e dezenas morreram nas ruas da capital Kiev. O Parlamento decidiu remover Yanukovich.

4) Em resposta à retirada de um aliado do poder, a Rússia decidiu anexar a península da Crimeia. O período também inflamou a situação em porções leste da Ucrânia, onde a população é majoritariamente russa e anseia por uma maior ligação com Moscou, como na região do Donbass, onde duas autoproclamadas repúblicas foram reconhecidas por Putin.

5) Em 2019, Volodimir Zelenski, um comediante que interpretava um presidente bem-intencionado em uma popular série de TV, foi eleito presidente. Ele tem discurso favorável à UE e à Otan, a quem pleiteia apoio e possibilidade de ingresso na aliança.

CARACTERÍSTICAS GERAIS DO PAÍS

Grupos étnicos

A população da Ucrânia tem composição multinacional. De acordo com dados do censo de 2001-o último disponível, sendo que uma nova edição está prevista para 2023-, representantes de mais de 130 nacionalidades e grupos étnicos vivem ali. Os principais:

Ucranianos: 77,8%

Russos: 17,3% (majoritariamente concentrados no Leste)

Belarussos: 0,6%

Economia

Composição do PIB*

serviços: 60%

indústria: 28,6%

agricultura: 12,2%

O setor de agronegócios continua sendo o setor mais promissor da economia. Com 41,5 milhões de hectares de terras agrícolas cobrindo 70% do país e cerca de 25% das reservas mundiais de solo negro, a agricultura é a maior indústria de exportação: em 2020, o setor agrícola gerou aproximadamente 9,3% do PIB.

Outros pontos importantes**

Posição 74 entre 189 países no ranking de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), com nota 0,779 -quanto mais perto de 1, melhor; Brasil é o 84º;

Índice de liberdade 60, numa escala que vai até 100 medida pela Freedom House e leva em conta liberdades políticas, civis e de imprensa; Brasil tem pontuação 74;

Posição 97 no ranking de liberdade de imprensa da Repórteres Sem Fronteiras em 2021; Brasil é o 111.

** Se consideradas somente as regiões rebeldes de Lugansk e Donetsk, sob domínio russo, todos esses índices recebem pontuação consideravelmente menor.

Fontes: Banco Mundial, Enciclopédia Britannica, PNUD, Embaixada Brasileira na Ucrânia, Angelo Segrillo (professor de história contemporânea da USP), Repórteres Sem Fronteiras, Freedom House e World Factbook


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