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Médicos investem em tratamento terapêutico de Bolsonaro para evitar riscos de nova cirurgia


 Embora o presidente Jair Bolsonaro tenha praticamente descartado uma nova cirurgia e sinalizado que poderá ter alta nesta sexta-feira (16), cirurgiões do aparelho digestivo ouvidos pela Folha dizem que as próximas 48 horas ainda inspiram cuidados.

"Dada a facada que eu recebi e quatro cirurgias, essa obstrução [intestinal] é sempre um risco muito alto. Mas, graças a Deus, de ontem [quarta] para hoje [quinta], evoluiu bastante esse quadro. Então, a chance de cirurgia está bastante afastada.”

As declarações do presidente foram dadas ao programa do apresentador bolsonarista Sikêra Júnior em entrevista ao vivo na noite desta quinta-feira (15) e corroboradas pelo cirurgião que o acompanha, Antônio Macedo.

"A cirurgia, a princípio, está afastada, uma vez que o intestino começou a funcionar e o abdome está mais flácido e mais funcionante", disse o médico ao programa da RedeTV!.

As chances de que o caso se resolva apenas com tratamento clínico são grandes, de 80%. A terapia consiste em jejum oral, soro de hidratação e reposição de glicose e eletrólitos –principalmente sódio e potássio– e retirada do líquido acumulado no estômago por meio de uma sonda nasogástrica.

Em boletim médico divulgado na noite desta quinta, o hospital Vila Nova Star, onde Bolsonaro está internado desde quarta-feira (14) em São Paulo, informou que o presidente mantém “evolução clínica satisfatória”. “Desta forma, foi retirada a sonda nasogástrica e planeja-se o início da alimentação para amanhã [sexta-feira].”

No hospital, Macedo disse à Folha que inicialmente o paciente receberá alimentação líquida, o que é necessário na fase de retomada da atividade digestiva. Posteriormente, ele passará a receber alimentos pastosos e, finalmente, sólidos.

Na entrevista à TV, Bolsonaro afirmou que poderia receber alta nesta sexta, mas depois Macedo informou à Folha que isso não está previsto.

A equipe médica ainda não deu detalhes sobre a causa da obstrução, mas o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse nesta quinta que uma dobra ou aderência no intestino do pai está impedindo a passagem de alimentos.

Segundo o cirurgião Carlos Sobrado, professor de coloproctologia da Faculdade de Medicina da USP, essas aderências (partes do intestino que ficam coladas) provavelmente são decorrentes do histórico de intervenções cirúrgicas após a facada que Bolsonaro sofreu em setembro de 2018.

Sobrado explica que essas aderências, ou bridas, ocorrem com frequência em situações como facadas ou tiros, em que há derramamento de sangue e fezes no peritônio, camada que reveste o abdome. O risco aumenta com as cirurgias decorrentes.

Daí a cautela da equipe médica que assiste Bolsonaro em tentar evitar ao máximo uma nova cirurgia. A cada nova intervenção na região intestinal mais riscos ele terá de desenvolver novas aderências e obstruções no futuro.

De acordo com o cirurgião do aparelho digestivo Diego Adão Fanti Silva, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), além da volta do funcionamento do intestino, há outros sinais que precisam ser avaliados antes de se descartar uma cirurgia.

O primeiro é o chamado débito da sonda, ou seja, o volume de líquidos que está saindo pela sonda no nariz. Esses líquidos são resultantes da saliva deglutida, do muco do intestino, do suco gástrico, da bile e do suco pancreático. Eles deveriam ser absorvidos pelo intestino, mas, devido à obstrução, acabam se acumulando no estômago –e até o início da noite desta quinta estavam sendo retirados por meio da sonda nasogástrica.

O normal é sair até 500 ml a cada 24 horas de um líquido de cor amarelo claro. Em casos de obstrução, o débito é maior que 1.000 ml e escurecido.

“Quando a brida [aderência] começa a melhorar, há uma mudança quantitativa [volume diminui] e qualitativa [fica mais claro] no débito da sonda nasogástrica”, explica Silva.

Outro sinal, de acordo com ele, é o paciente conseguir comer e beber sem vomitar, e o terceiro, a eliminação de gases e fezes. “A ordem desses itens varia. Pode ser primeiro um ou outro. Quando os três estiverem presentes, deu certo o tratamento clínico”, explica o cirurgião.

Para o cirurgião do aparelho digestivo Christiano Claus, outro aliado importante é o controle da obstrução com tomografia. “Hoje com os novos tomógrafos a gente consegue com muito mais precisão e rapidez determinar esses parâmetros, se está obstruído ainda ou não”, afirma.

Boletim médico divulgado na manhã desta quinta informou que Bolsonaro evoluía “de forma satisfatória clínico e laboratorialmente” e que o tratamento permanece o mesmo, ou seja, sem previsão de cirurgia.

Caso Bolsonaro necessite de uma cirurgia, novos desafios são previstos por se tratar de abdome hostil, ou seja, que já passou por várias intervenções.

“É abdome com múltiplas aderências que dificulta o acesso à cavidade abdominal. As alças intestinais estão coladas umas às outras ou à parede [abdominal] que você não consegue soltar para chegar à obstrução. Ele tem que tirar a tela da frente [colocada em uma das cirurgias]. Ele tem uma hérnia na região subcutânea”, afirma Diego Silva.

Um risco dessa situação é que, na hora de soltar essas aderências, pode acontecer alguma lesão nas alças intestinais que demandará sutura. Na primeira semana do pós-operatório, esse ponto pode abrir, o que é chamado de fístula.

“Imagina dois papéis colados um no outro e você ter que descolar um papel do outro sem rasgar. Tem que puxar bem devagarinho para soltar sem lesar as alças intestinais. É por isso que as cirurgias demoram muitas horas.”

Uma terceira complicação possível é que, ao abrir e fechar uma parede abdominal que já foi aberta várias vezes, o paciente volta a ter risco de apresentar uma hérnia incisional no futuro.

Com dores, Bolsonaro foi internado no Hospital das Forças Armadas, em Brasília, na madrugada da última quarta-feira, de onde foi transferido para São Paulo por orientação de Macedo

O presidente vivia uma crise de soluços —foram 11 dias de reiteradas interrupções em interações com apoiadores, live e entrevista por causa de contrações involuntárias do diafragma.

​Colaboraram Joelmir Tavares e Carolina Linhares, de São Paulo, e Daniel Carvalho, de Brasília

Classificação Indicativa: Livre



Por: Reprodução / Twitter / Bolsonaro  Por: Folhapress

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