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Um ano sem aulas: Professores, estudantes e pais avaliam de forma negativa ensino público em meio a pandemia

 


Um lápis, um papel, o professor logo ali na frente para tirar dúvidas, os colegas ao redor para interagir, a “hora do lanche”. Há um ano que essa vivência, comum na vida da maioria das crianças e jovens, foi apagada com a chegada do coronavírus na Bahia. Contudo, para os alunos de escolas particulares foi apresentada uma alternativa do “novo normal” através de aulas à distância, já para os estudantes da rede pública de ensino a realidade foi totalmente diferente: um ano sem aulas ao vivo, um ano sem realizar refeições na escola, sem trocas com os professores, colegas, um ano perdido. 

Após completar 12 meses de pandemia da Covid-19 no estado, o BNews realizou uma série de reportagens que traz um panorama de diversos segmentos. Na educação pública, evidenciou-se ainda mais as lacunas causadas pela desigualdade social na vida e formação dos estudantes, tanto da rede municipal quanto estadual de ensino. Faltaram (e ainda faltam) materiais para estudo, estrutura dentro de casa e condições ideais para estudo, segundo o professor de geografia, Luiz Parente, que leciona há 5 anos na rede pública de ensino. 

“Os alunos foram perdendo o estímulo, porque a maior preocupação deles é ter o que comer, é sobreviver. Muitos não tinham condições de colocar crédito nos celulares, falavam ‘Professor, eu não tenho mais crédito, só vou renovar daqui a 15, 20 dias, não vou ter mais como falar com você’. Eu pedi para outros alunos que tinham crédito e moravam perto desses alunos para que ajudassem uns aos outros, tive muita dificuldade”, disse o professor. 

Ao que parece o “tempo perdido” foi uma sensação quase unânime entre as partes envolvidas. De acordo com o estudante de 17 anos, Lucas de Santana Sena, que cursa o 1º ano do ensino médio no Ceep-tic, a suspensão das aulas causou sentimento de decepção: “como se eu tivesse perdido um ano, pois era tudo muito incerto”, disse. Para Lucas a alternativa foi entrar no mercado de trabalho e investir em cursos on-line.  

A mãe de uma aluna do CETEP, Michele Ramos, reiterou os problemas citados pelo professor e pelo estudante do Ceep-tic. Segundo ela, o colégio não disponibilizou material de estudo e não conseguiu manter uma comunicação que, consequentemente, impactou de forma negativa na educação de sua filha.  

“Tudo mudou para minha filha que parou completamente de estudar sempre esperando por alguma resposta por parte da escola, sequer atividades on-line foram previstas e mesmo depois de um ano sem aulas, o governo não se preparou para o retorno virtual”, completou.

Retorno das aulas  

Sentindo as consequências das portas fechadas das instituições de ensino e “vendo” de perto o sofrimento dos estudantes, o docente contou que apesar do retorno nas escolas estaduais está previsto, de forma remota, para o dia 15 de março, ainda há muitos obstáculos que a categoria precisa vencer para minimizar os impactos e fazer com que os alunos consigam absorver os conteúdos. 

Para Luiz Parente, não há condições necessárias para um retorno eficaz a nível de educação e estrutura para discentes e docentes. “Vai ser uma bagunça, desorganização e os alunos vão perceber que os professores estão confusos e inseguros. Se a gente passar isso para o aluno é péssimo, o que pode gerar mais insegurança para os alunos e acarretar evasão escolar. 

De acordo com o governo do estado, as aulas retornam na próxima segunda-feira (15), com modelo de ensino 100% remoto, ou seja, aulas e conteúdos disponibilizados online, além do material físico, para os alunos que não tem condições para acessar a internet.

Já as aulas utilizadas para os alunos da Rede Municipal de Educação de Salvador estão ocorrendo através da TV, assim como do contato direto com os professores. Assistir às aulas na TV deve complementar com a aplicação de atividades diárias, aulas síncronas e assíncronas, realização de experimentos, leituras, entre outras. Conforme a Smed, as aulas pela TV são direcionadas aos alunos do Ensino Fundamental I e II (do 1º ao 9º ano) e da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Para os alunos da Educação Infantil, estão disponíveis no Canal da Smed no YouTube vídeos para crianças e familiares. As unidades de ensino também preparam vídeos, cards, tarefas e outras atividades a serem enviadas para as famílias.

Yasmim Barreto

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