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Sem insumos, laboratórios privados limitam exames para detectar coronavírus



A falta de insumos tem levado as principais redes particulares de exames para a Covid-19 a mudar os procedimentos e restringir o acesso a novos testes de coronavírus a apenas casos clínicos considerados graves com indicação hospitalar.
Todas as redes ouvidas pela Folha admitiram que o atual gargalo está na quantidade de produtos disponíveis para a produção dos testes. Um dos problemas é a aquisição dos insumos provenientes de Estados Unidos, Europa e China. Com o agravamento da pandemia entre americanos e europeus, os mais de 220 produtos usados para fabricar os testes estão sendo comprados em quantidades limitadas e com período de entrega maior do que antes da crise.
Reservadamente, alguns laboratórios admitiram que o atual volume é suficiente para atender à demanda das próximas duas semanas.
Exames domiciliares foram suspensos e novos pedidos médicos só são aceitos quando partem de unidades hospitalares credenciadas. Casos particulares estão sendo autorizados individualmente por médicos dos laboratórios.
A mudança foi feita para diminuir a fila de exames acumulados na última semana quando os casos de coronavírus aumentaram no país.
A estimativa não oficial do setor é de que entre 30% e 50% dos exames chegaram a ficar represados nos últimos sete dias. O "backlog" afetou o tempo de respostas dos laboratórios aumentando para até sete dias a entrega do resultado.
"O protocolo anterior [de testar todo mundo suspeito] sobrecarregou o sistema como um todo. A mudança de protocolo foi uma maneira de garantir o atendimento a pacientes críticos", explicou vice-presidente e porta-voz da Rede Dasa, a maior empresa de medicina diagnóstica do Brasil e da América Latina, Emerson Gasparetto.
A medida tomada pela Dasa e as outras empresas do setor seguiu as recomendações do Ministério da Saúde, que esta semana mudou o protocolo para a realização de testes só para possíveis casos com internação ou com sintomas graves.
"É preciso fazer um racionamento técnico", afirmou Gasparetto. "Ligamos o alerta laranja. Se racionalizarmos agora podemos evitar uma crise daqui a três semanas".
Na quinta (19), o secretário-executivo da pasta, João Gabbardo dos Reis, já havia afirmado que o país não tem capacidade técnica e de material para se testar todos os possíveis casos.
A Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica) estima que o aumento da demanda fez com o prazo médio de resposta dos exames passar das 24 h da semana passada (para casos positivos) para 72 h nesta semana. A entidade diz que em alguns casos a espera é de até sete dias.
"Está todo mundo trabalhando no teto, no limite de realização de exames", explicou Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da entidade.
Para realizar os testes, são necessários, entre outras coisas, produtos mais simples, como microtubos e placas para colocar as amostras a serem analisadas, e reagentes químicos.
Em São Paulo, o Grupo Fleury, que responde por cerca de 80% do mercado da capital, afirmou, em nota, que somente os hospitais credenciados poderão fazer exames em "pacientes elegíveis", segundo os critérios médicos.
Em Minas, o grupo Hermes Pardin, o maior do estado, admitiu que os testes passaram a demorar até seis dias úteis para casos não graves. Pacientes prioritários da rede hospitalar o resultado do exame fica disponível em até 24h. O representante da Abramed classificou o quadro como "preocupante".
"Consumimos muito recursos (insumos) testando quem não precisava. Para gente não chegar ao ponto de não ter mais, o Ministério da Saúde acertou em alterar o protocolo nacional de atendimento", afirmou Martins. /Por: Renato Onofre, Folha

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